A humanidade de quando
em vez caminha com a tragédia. Muitas vezes um terremoto. Um tsunami. Um
tornado. Outras vezes o próprio homem se destrói. Londres foi destruído duas
vezes: por um grande incêndio provocado por um padeiro. E na II Grande Guerra,
quando foi bombardeada durante 40 noites. A mesma cidade foi acometida por uma
epidemia da chamada peste negra, quando a cada dia morria 8 mil londrinos. No
grande Terremoto que destruiu Lisboa em 1755, todos correram para os barcos
ancorados na praia. Surgiu um tsunami. Todos voltaram para terra e a cidade se
incinerava em um incêndio dantesco. Era 1 de novembro, dia de todos os santos. Em plena missa o celebrante ao proferir:”memento
Domine, famulorum famularunque tuarum. Lembra-te Senhor de teus fieis, uma laje
desabou sobre o próprio padre. Voltaire perguntou em meio aquela catástrofe:
“onde esta Deus?”. Na tragédia de Santa
Maria da Boca do Monte, RS, alguém ira fazer a mesma pergunta. Deus deu ao
homem o livre arbítrio. O direito de se decidir por si. Deus não patrocinaria a
morte de tantos jovens mergulhados em sonhos e esperanças. A ilicitude ética
legalizada neste Brasil, é responsável por esta tragédia. Deus está na
solidariedade. Deus está na dor compartilhada. Deus está nas lagrimas
divididas. Deus está nos abraços de enternecimento. De compaixão. A morte nada
salva. O que salva e a vida. Não foi a morte de Jesus, a experiência
consistente de Deus, que nos salvou. Quem nos salvou foi a ressurreição. Foi a
pedra tombada do sepulcro que deixou derramar-se a vida sobre nós. O antídoto
da morte é o nascimento. Nesta dor que não tem fim, a presença de Deus se faz
nos gestos humanitários. A dor que se divide na imensidão do mundo. Quando fui
medico residente em Porto Alegre, a Universidade de Santa Maria era referencia
nacional. Foi a primeira Universidade no interior do Brasil. Nos anos setenta,
somente a USP e Santa Maria dispunham de microscópio eletrônico. Cidade de
gente pacata, educada e companheira. Esta triste maneira de morrer, lembra
Manoel Bandeira: eu suspiro por ar. Jovens abatidos em pleno voo quando se
preparavam para trazer mais esperanças e mais vidas para tantos. Como águias
que alçam voos para o céu e são mortalmente feridos de morte. Sonhos e
esperança que se transformaram em negras fumaças de dor.
Fortaleza, janeiro de
2013
Jose mariabonfim de
morais- medico cardiologista
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