terça-feira, 30 de abril de 2013

Crateús: no mapa ou no map



Elias de França
Declaração de um dos advogados no caso Eliza Samúdio x Goleiro Bruno, durante uma entrevista na TV Bandeirantes, tem repercutido nas redes sociais e emissoras das terras caratis. Num desses programas policiais que abarrotam a medíocre mídia brasileira, o profissional do direito, enquanto verbalizava sem modéstia sua auto macheza e coragem, declarou sua nordestinidade e disse que sua cidade natal, Crateús, “não tá (sic) nem no mapa”.
Sem entrar no juízo de valor, o que soou, para uns, como promoção e, para outros, ofensa a “princesa do oeste” nos remete a uma questão que parece historicamente recorrente: qual  o lugar de Crateús no mapa?
Já na origem colonial da cidade reside a primeira controvérsia. Está Crateús no mapa do bandeirante Domingos Jorge Velho, já que sua viúva reclamou esta sesmaria como recompensa aos sacrifícios do seu desbravamento pelo marido? Teria ele aqui feito morada e desposado sete índias com quem teria concebido dezenas de filhos a povoarem esses rincões? Ou valem outras evidências históricas de que, se acaso chegou a conhecer o sabor de uma cará-teú, o bandeirante tão somente a degustou de passagem pela trilha rara do boqueirão do Poti, na viagem de volta, do Piauí ao Piancó, já aos seus 83 anos, o que faz de Crateús no map a Jorge Velho?
Crateús está sim, com certeza, no mapa do peregrino Frei Vidal da Penha. As quatro cruzes afixadas, uma em cada extremo da cidade, não deixam dúvidas.  Resta esclarecer se estamos ou não, também, no mapa do inferno. O local das cruzes é entrada ou saída? O diabo foi enxotado quando tentava entrar ou já estava dentro e ficou aqui confinado morando conosco? Afinal, Crateús no mapa ou no map, do Capiroto?
Crateús está, sim, no mapa do poeta príncipe José Coriolano. Quando a cidade era ainda tão Príncipe Imperial, Crateús... oh! Crateús já era terra primeira, e toda, e tanta, vales sem fim de “moitas verdosas, ondeando-se a volver!”, “Dessas c’roas, onde ensaia / A rola os gemidos seus! Onde a lua se desmaia / Alvacenta – lá dos céus!”. Mas, enfim, o poeta de Crateús, em que mapa está? No Crateús piauiense do século XIX ou no Crateús Cearense do presente?
Crateús está, sim, no mapa da revolucionária Coluna Miguel Costa-Prestes, liderada pelo Coronel João Alberto, na guerra com as forças legalistas e o comando do Delegado Peregrino. O sangue de dois de seus homens se misturarou às águas do Poti, e suas almas ainda hoje recebem promessas e ex-votos.
Crateús está, sim, no mapa do Dom da liberdade, o Fragoso dos pobres, e está bem no centro do mundo dos oprimidos que resistiram à espionagem e à repressão. Está no mapa e no verbo de Márcio Moreira Alves em seu discurso indignado de setembro de 1968. E vai à França nas memórias do José Comblin barrado no Aeroporto de Recife e expulso do Brasil, em 1972, para que não pudesse chegar à Crateús.
Mas Crateús é no map aos velhos políticos e seus “podres poderes” que vivem de fazê-lo passar por Inhamuns para lhe estenderem os tentáculos de seus currais eleitorais. E tem seu mapa distorcido para abrigar malfeitores, cartãozeiros, mesmo quando de outros municípios, na boca suja de mal-intencionados.
Em alguma dimensão, está certo o “dotô adevogado”. Crateús não precisa estar mesmo em certos mapas. Nesses espetáculos de horrores que alimentam a pauta e a audiência da grande mídia, meses a fio, não. Se é essa a grandeza dos gigantes centros urbanos, melhor que sejamos “cidadezinha pequena lá do ceará”. Por aqui, a coragem de enfrentar a tirania não é uma questão de macheza, privilégio de “cabras”. Aqui homens e mulheres marcam suas digitais nos tantos mapas que fazem nossa emblemática história, que muito nos honra.

José Alberto de Souza disse...
Bateu, levou! 
Réplica veemente a um infeliz comentário de um ignorante que se julga ungido de falsos privilégios, renegando a nobres raízes.

2 comentários:

  1. Bateu, levou!

    Réplica veemente a um infeliz comentário de um ignorante que se julga ungido de falsos privilégios, renegando a nobres raízes.

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  2. E Crateús está no mapa da Arquitetura por ser uma das cidades não-Capital a ter um monumento projetado por um dos maiores arquitetos que a humanidade já conheceu: Oscar Niemeyer! Está no mapa, sim, dos cearenses que foram construir Brasília e recrutados como "soldados da borracha" recrutados para os seringais para alimentar guerras que nem a nós pertencia, como muito bem lembra Raimundo Cândido em seu livro Cratheús - do portão da feira aos galos da torre. Em mapas de crápulas, de assassinos e de seus defensores.

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