Recebi a pergunta por Email e
logo uma luzinha de alerta ascendeu na minha consciência, como um pisca-pisca no
painel de carro, de quando havia algum sinal alertando no meu velho Del Rey. Também
ficou uma ordenzinha insistente, obstinadamente teimosa, repetindo uma voz de
mando: - Responde logo a pergunta, Raimundo! E antes que o galo cante!
Dizia a missiva eletrônica: “A
propósito do livro “Cratheús do portão da feira aos galos das torres” que ainda
não li, qual é o fundamento ou significado bíblico dos galos das torres de
nossa Catedral do Senhor do Bonfim? Abraços, Dr. Manoel Martins.”
O alerta não era sem motivo,
pois havia colocado a seguinte pergunta na promoção “Ler é vida” da Academia de
Letras de Crateús: “Qual o nome completo do magistrado que gravou seu nome na
história recente de Crateús quando, assumindo as funções jurisdicionais da 2ª
Vara, colocando no cárcere criminosos de todos os naipes, inclusive doutores,
políticos e servidores públicos graduados?” Um promotor de Justiça, Dr. Antonio Arcelino Oliveira Gomes, havia ganho o livro, sobre Jurisdicionalidade Reprimida da autoria
do Promotor Dr. José Arteiro Soares Goiano, quando respondeu na lata: Foi o Dr.
Magno Gomes de Oliveira.
Pelo nome, MAGNUS, que
significa o grande, só poderia ter nos deixado o que realmente deixou, como um bom
exemplo: A ORDEM PÚBLICA! Já que Cratheús tem uma estranha tendência, desde a velha
Vila Príncipe Imperial, à inclinação ao desarranjo, ao desvairamento de sua
organização pacífica, social, política e econômica de cidade ribeirinha.
Minhas orelhas ficaram de pé!
Dois Juízes e dois Promotores assim, como que despretensiosos, entres as linhas
mal escritas deste escriba de pouco recursos. Pareceu-me um presságio! Que fiz
eu, para atraí-los à abstrações literais nestes destituídos parágrafos?
Quando batizei os galos das
Torres da Igreja da Matriz, o da esquerda com o nome de Bonfim e o da direita
de Macedo, tinha certeza de que nenhum vultoso antepassado viria me perguntar
os porquês destes digníssimos nomes. Os mortos, que agora se preocupam com
outras amenidades, não! Mas os vivos, com o atordoamento das incertezas, sim! O
primeiro a me contestar foi o grande escritor Flávio Machado: - Raimundo,
porque um dos galos não se chama Juvêncio, já que foi ele que construiu a torre
poente? Custou-me convencê-lo de que os nomes Macedo e Bonfim correspondiam a
uma geração de homens-padres que semearam uma ordem, comeram e beberam a ceia
de uma era que ficou como um pilar deste tórrido chão.
Nunca esperei uma cobrança
“jurídica” acerca dos vigilantes galos a olhar a Ribeira do Poti sobre os
braços do Cristo Redentor.
Mas a voz da minha consciência
continuava martelando: - Não enrola! Responde logo a pergunta do doutor, senão
tu vai ver! Cedo à insistência daquela clamorosa voz que me chegou pelo correio
eletrônico e, por esse mesmo imã do mundo, respondo.
Meritíssimo Dr. Manoel Martins:
Tenho em mente a história de um menino que um dia se achegou à janela do
Externato N. S. de Fátima, como um esperto garnizé em busca de sapiênci e
cintilou nos olhos da professora Dona Delite, como uma promessa de irrefutável valor,
como um voto de qualificado brio e que se concretizou, para orgulho da cidade.
Hoje, como guerreiro que cumpriu a missão de cidadão, repousa como os galos das
torres, a velar o compasso do tempo na cristalização das eras.
Caríssimo Doutor: Como os bois
lá na Índia do kamasutra numa aglomeração de sagrado e profano, os galos das
torres da Catedral Senhor do Bonfim, mesmo sem batinas e sem togas, são
sagrados e vigiam a profanação que os sem decências proclamam pela cidade,
fazendo aumentar a inclinação ao desarranjo, ao desvairamento de sua
organização pacífica, social, política e econômica.
Enquanto os crateuenses dormem,
eles, os galos Macedo e Bonfim, em nome dos homens, louvam a Deus e observam
atentamente, toda sensatez e todo descaminho desde o portão da feira, o coração
da cidade às torres erguidas aos céus, como súplica de salvação.
Já que o poema Ofertório o fez
recordar a primeira comunhão quando recebeu o "Corpo e Sangue de Cristo
sob a forma de pão e vinho", aproveito a ocasião de confluência de religiosidade,
de honestidade, de honradez e de força dos homens das leis, como Magnus
crateuenses da justiça, para conclamar ajuda aos nossos dois galos, que
passarão a ser três com suas presenças, seremos quatro, cinco, seis... Uma
multidão! E como os galos de Cabral, que
entregando uns aos outros a responsabilidade de tecer o dia, teceremos um amanhã
de esperanças nas Ribeiras do Poti.
De um grande admirador dos
Galos das Torres da Matriz e dos que promovem, indistintamente, justiça aos
homens na Terra e aos olhos dos céus.
Raimundo Cândido
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