segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Antes que o galo cante!



Recebi a pergunta por Email e logo uma luzinha de alerta ascendeu na minha consciência, como um pisca-pisca no painel de carro, de quando havia algum sinal alertando no meu velho Del Rey. Também ficou uma ordenzinha insistente, obstinadamente teimosa, repetindo uma voz de mando: - Responde logo a pergunta, Raimundo! E antes que o galo cante!
Dizia a missiva eletrônica: “A propósito do livro “Cratheús do portão da feira aos galos das torres” que ainda não li, qual é o fundamento ou significado bíblico dos galos das torres de nossa Catedral do Senhor do Bonfim? Abraços, Dr. Manoel Martins.”
O alerta não era sem motivo, pois havia colocado a seguinte pergunta na promoção “Ler é vida” da Academia de Letras de Crateús: Qual o nome completo do magistrado que gravou seu nome na história recente de Crateús quando, assumindo as funções jurisdicionais da 2ª Vara, colocando no cárcere criminosos de todos os naipes, inclusive doutores, políticos e servidores públicos graduados?” Um promotor de Justiça, Dr. Antonio Arcelino Oliveira Gomes, havia ganho o livro,  sobre Jurisdicionalidade Reprimida da autoria do Promotor Dr. José Arteiro Soares Goiano, quando respondeu na lata: Foi o Dr. Magno Gomes de Oliveira.  
Pelo nome, MAGNUS, que significa o grande, só poderia ter nos deixado o que realmente deixou, como um bom exemplo: A ORDEM PÚBLICA! Já que Cratheús tem uma estranha tendência, desde a velha Vila Príncipe Imperial, à inclinação ao desarranjo, ao desvairamento de sua organização pacífica, social, política e econômica de cidade ribeirinha.
Minhas orelhas ficaram de pé! Dois Juízes e dois Promotores assim, como que despretensiosos, entres as linhas mal escritas deste escriba de pouco recursos. Pareceu-me um presságio! Que fiz eu, para atraí-los à abstrações literais nestes destituídos parágrafos? 
Quando batizei os galos das Torres da Igreja da Matriz, o da esquerda com o nome de Bonfim e o da direita de Macedo, tinha certeza de que nenhum vultoso antepassado viria me perguntar os porquês destes digníssimos nomes. Os mortos, que agora se preocupam com outras amenidades, não! Mas os vivos, com o atordoamento das incertezas, sim! O primeiro a me contestar foi o grande escritor Flávio Machado: - Raimundo, porque um dos galos não se chama Juvêncio, já que foi ele que construiu a torre poente? Custou-me convencê-lo de que os nomes Macedo e Bonfim correspondiam a uma geração de homens-padres que semearam uma ordem, comeram e beberam a ceia de uma era que ficou como um pilar deste tórrido chão.
Nunca esperei uma cobrança “jurídica” acerca dos vigilantes galos a olhar a Ribeira do Poti sobre os braços do Cristo Redentor.
Mas a voz da minha consciência continuava martelando: - Não enrola! Responde logo a pergunta do doutor, senão tu vai ver! Cedo à insistência daquela clamorosa voz que me chegou pelo correio eletrônico e, por esse mesmo imã do mundo, respondo.
Meritíssimo Dr. Manoel Martins: Tenho em mente a história de um menino que um dia se achegou à janela do Externato N. S. de Fátima, como um esperto garnizé em busca de sapiênci e cintilou nos olhos da professora Dona Delite, como uma promessa de irrefutável valor, como um voto de qualificado brio e que se concretizou, para orgulho da cidade. Hoje, como guerreiro que cumpriu a missão de cidadão, repousa como os galos das torres, a velar o compasso do tempo na cristalização das eras. 
Caríssimo Doutor: Como os bois lá na Índia do kamasutra numa aglomeração de sagrado e profano, os galos das torres da Catedral Senhor do Bonfim, mesmo sem batinas e sem togas, são sagrados e vigiam a profanação que os sem decências proclamam pela cidade, fazendo aumentar a inclinação ao desarranjo, ao desvairamento de sua organização pacífica, social, política e econômica.
Enquanto os crateuenses dormem, eles, os galos Macedo e Bonfim, em nome dos homens, louvam a Deus e observam atentamente, toda sensatez e todo descaminho desde o portão da feira, o coração da cidade às torres erguidas aos céus, como súplica de salvação.
Já que o poema Ofertório o fez recordar a primeira comunhão quando recebeu o "Corpo e Sangue de Cristo sob a forma de pão e vinho", aproveito a ocasião de confluência de religiosidade, de honestidade, de honradez e de força dos homens das leis, como Magnus crateuenses da justiça, para conclamar ajuda aos nossos dois galos, que passarão a ser três com suas presenças, seremos quatro, cinco, seis... Uma multidão!  E como os galos de Cabral, que entregando uns aos outros a responsabilidade de tecer o dia, teceremos um amanhã de esperanças nas Ribeiras do Poti.
De um grande admirador dos Galos das Torres da Matriz e dos que promovem, indistintamente, justiça aos homens na Terra e aos olhos dos céus.
Raimundo Cândido


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