quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Arremedando Drummond, um poema que escrevi há tempos.


RIMAS


Clarisse sonhava em ser Miss
Ernesto  queria ser honesto
Luis? Luis queria apenas ser feliz.


 Raimundo – o estraga-prazeres –
Disse com todas as letras, hieróglifos e ideogramas
Parafraseando Carlos
Um gauche lá das Gerais:

Rima não é solução. Tirem o cavalinho da chuva.

Clarisse engordou cem quilos
Ernesto entrou pra política
Luis? Que é de Luis?

 Dizem que caiu no mundo
Depois que Felicidade
Que não entrava na estória
Foi embora na garupa do cavalo de Raimundo.

CHICO PASCOAL
http://microrelatosdocheeko.blogspot.com


P.S. – O Raimundo estraga-prazeres, no caso, é só um xará seu, meu caro.  Pois você, ao contrário, nos proporciona sempre a leitura prazerosa das suas crônicas, e contos, e poemas.

 Abraço, Chico Pascoal

DEMANDA

Elias de França 19/01/2012


Abusei de consciência
Luz é meio que dor
Arde tudo ver
ter
ser...
nada crença!
Nem a escuridão me esconde tantas “verdades”
Viva a inocência!


Deem a meu deserto a miragem,
em vez da gota
o anestésico antes que o milagre
Saber nada redime
Estou em crise
de paciência
Lucidez é meio que dor...
Incandescência!


Tragam-me um poço
de ilusões
Que o ópio nos leve ao porto
da fantasia...
Um trago amargo
de bem-querença
Em poesia
sonhar é meio que flor...


Alô, freguesia,
Compram-se devaneios!
Pagam-se bem!
Anestesia...


Luciano Bonfim disse...
será uma "ode" anti-Belchior ?[não estou interessado em nenhuma teoria, em nenhuma fantasia nem no algo mais...]
abs
Luciano Gutembergue Bonfim Chaves.
Professor e Escritor.
Universidade Estadual Vale do Acaraú.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

CRATEÚS SEDIARÁ ENCONTRO ESTADUAL DE ESCRITORES EM 2013


Membros da Academia de Letras de Crateús participaram do I Encontro Estadual de Escritores, realizado nos dias 13, 14 e 15 de janeiro, na vizinha cidade do Ipu. O evento foi prestigiado por seis membros da ALC: Elias de França, Adriana Calaça, Silas Falcão, Raimundo Cândido, Edimilson Providência e Mestre Lucas Evangelista.
Por iniciativa da Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes, com o apoio da ACE (Associação Cearense de Escritores) e do SESC (Serviço Social do Comércio), este primeiro encontro foi realizado com pretensão de ser o início de uma série anual do evento.
Na programação, palestras sobre temas relacionados às letras, apresentações musicais, declamações poéticas e lançamentos de livros.
Ao final do evento, foi anunciada a Cidade-Sede do próximo encontro. O II Encontro Estadual de Escritores será realizado em Crateús, em data ainda não definida, em 2013. Na ocasião, nossa cidade deverá receber escritores, artistas e intelectuais das diversas regiões do Estado e da Capital Cearense.


Paulo Nazareno disse...
Parabens Grande Timoneiro Elias!

Valdemir Mourão, presidente da Academia de Letras do Ipu.
Lucia Medeiros, coordenadora de literatura do SESC

Airton Soares (AS) debulhando uma das suas personagens
O vaqueiro Poeta.

Esta rua chama-se Cel. Pedro Aragão. Antigamente Rua da Goela onde nasceu, em 1919, o cronista Milton Dias. Carlos Vazconcelos é outro admirador da literatura miltoniana. Ao lado direito o verde na janela do casarão de 1845, sede da Academia de Letras do Ipu. 
Ilhota - A Ilha das Cobras
              Quando minha vida era longa e podia desaproveitar meu tempo, deslumbrava-me com as ilusões da ILHA DA FANTASIA, um piegas seriado de TV. Tudo acontecia naquela paradisíaca ilha, qualquer inalcançável desejo ocorria por intermédio do poder das moedas que tilintavam no bolso do senhor Roarke, sempre acompanhado de um simpático anãozinho, o pequeno Tattoo.
           Enquanto houver ingênuas crianças e quiméricos poetas existirão os (ir)realizáveis sonhos e as delirantes fantasias.
               Pela janela em que vejo o mundo a girar, sintetizo uma luz mítica com o pó real da vida e alterno os elementos concretos com os entes abstratos de um céu azul, colado ao cinza da terra que compõem a natureza cósmica a configurar todo o paradisíaco ar que respira meu ser.
              Pelas asas ritmadas da poesia, certa vez, voei à ILHA DA MAGIA, a encantada Florianópolis, exuberante beleza em forma de cidade. Dizem que a beleza das coisas está no espírito de quem as contempla, consinto. Aguardo que as mesmas emplumadas asas me levem, algum dia, a São Luis do Maranhão, a ILHA DOS AMORES. O amor que deifica os homens e humaniza os deuses, admito.
              As ilhas são formas vivas, nascem, crescem e, ao criarem raízes, geram um monte de terra, ganhando altura e ultrapassando a linha da água, mas nunca morrem, parece-me! Embora arqueado pelo peso da minha solidão, isolado em mim mesmo, não sou uma ilha, mas conecto-me com elas, por uma estreita ponte de admiração.
              Como uma grande serpe de vidro, o Poti desenrola-se, enrosca-se no leito e corre veloz. Salta, como um escoiceante cabrito, a barragem que o sufoca. Livre, escorrega sob as firmes pontes do batalhão, e debanda, já deixando saudades no Poço do Padre. Um diedro sólido, como uma afiada cunha, racha-lhe a fronte formando dois longos braços fluviais que enlaçam a Ilhota e se alastram imensos, para abraçar toda Cidade Nova, a magistral Ilha. E vão unir-se, de novo e vertiginosamente, no estreitamento pétreo da goela para seguir seu fatal destino de rio e desaguar em pleno mar.
               Naquele dia, o filho caçula de Seu Manoel Bem-Te-Vi, com um estilingue na mão, caçava rolinhas nas matas da Ilhota. Pelo chão desliza uma vil cobra, o insensível instinto sibila avisando o inocente do perigo. Um bote certeiro o alcança. A família Bem-Te-Vi, o Zé, o Raimundo, o Seu Manoel, todos os Bem-Te-Vis soberanos daquele delta sem foz, mas de permeio, abalam-se e debandam como o Poti, por não mais vêem uma poética beleza na Ilhota que marcou época. Agora, é só a ILHA DAS COBRAS.
               Como na ilha de Queimada Grande, no litoral paulista, destruída pela serpente mais terrível e letal do planeta, a jararaca-ilhoa Bothrops insularis – que dizimou até os fugidios pássaros, inclusive os onomatopéicos Bem-Te-Vis.
                A quem diga que aquela cobra da antiga Ilhota, ainda reside por ali, infiltrada no meio de sua gente. E é esperança do povo que ela um dia morda a língua e venha a perecer com seu próprio veneno.
                No único logradouro da Ilhota, a Rua Juca Morais, avistamos uns grupinhos de desocupados, ociosos por vocação, aguardando um tolo que lhes pague uns tragos, e ainda dizem que moram no quartel geral da cachaça.
                O grande filosófo Lao Tsé, na obra Tao Te Ching, O livro do Caminho e da Virtude, que em chinês grava-se assim 道德經, disse: “ Quem conhece a sua ignorância revela a mais profunda sapiência. Quem ignora a sua ignorância vive na mais profunda ilusão”.  Rua Juca Morais, a Ilha das cobras, da ignorância ou da ilusão? Quando um cidadão está mergulhado na mais profunda probreza que entorpece até o espirito, não percebe nem a queda nem o coice. E pressinto o faro de gaviões se aguçando, para um grande tesouro enterrado nesta inconcebivel inconsciência, a infame compra de votos,  que gera injustiça sobre injustiças. Sinto o cheiro de estrume, semelhante ao da vacaria ali ao lado, e um capataz a tanger os votos de cabresto, para um velho curral eleitoral.
              A Ponte de Ferro da Estação, que suspende os serpenteantes trilhos sobre o Rio Poti, une-me a uma Ilhota que busca ser feliz, mesmo com vagas esperanças e todo o desespero comum à raça humana.  Ali, pessoas decentes, arduamente também trabalham e calam, pois falar é difícil quando não se tem um vocabulário ou uma “voz” para exprimir uma dor acostumada. E mesmo, verdadeiramente se expressando, com os olhos, com as mãos ou com a alma, um gênero desumano chamado político, não os ouve!!!

Raimundo Candido


segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Prece à Madrugada

Às auroras,
a maestrina do coral de galos rouba-me o sono
para eu assistir às árvores orvalhadas
posarem em êxtase, qual figurantes,
em continência ao leste espetacular.


Pássaros sacodem as asas,
piam concertos improvisados,
saúdam o menino-sol, que emerge
rasgando a placenta de névoa da madrugada.


 Revela-se o dia,
mal-escondido num véu de neblina,
e a imensidão é um mar perfumado
exalando um cheiro úmido de vida fértil
e um gosto de eternidade sobre a minha carne.


 Temo que, na aurora,
pássaros sacudam as asas sem que eu os escute assobiarem,
e o sol rasgue a névoa, mas negue-me seu calor.


Temo que, na aurora,
eu tenha que esconder meus olhos do dia mal-escondido;
a imensidão seja um mar perfumado inodoro ao meu olfato
e minha carne não mais degusta o sabor de eternidade.  


 Temo, de toda minha alma,
oh, maestrina do cantar dos galos,
que tu te esqueças de roubar meu sono
e, tão cedo, deixe-me dormir para sempre,
sem aurora, sem dia, sem nada...
E as árvores orvalhadas batam continência
em homenagem última ao meu ocaso.


Elias de França, do Livro Cantigas do Oco do Mundo - 2002

Raimundo Candido disse...
Poeta! O que mais dizer... Só roubar duas palavras da última estrofe e BATER CONTINÊNCIA:  POETA!!!   POETA!!!   POETA!!!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

1ª Conferência Municipal sobre Transparência e Controle Social

O Exmo. Sr. Prefeito de Crateús, Dr. Carlos Felipe Saraiva Beserra, tem a honra de convidá-lo(a) para a 1ª Conferência Municipal sobre Transparência e Controle Social de Crateús.

Objetivo: Promover a transparência pública e estimular a participação democrática da sociedade no acompanhamento e controle de gestão pública.

Data: 14 de Janeiro de 2012
Horário: 08:00 às 17:00
Local: Centro de Treinamento Dom Fragoso
Crateús - Ceará

(SIC)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

                                                     Procissão


                O mundo é obra de fôlego divino, incansavelmente escrita de capítulo em capítulo, que às vezes soletramos com uma vista enevoada por uma cega emoção, mas só devíamos proferir suas prosas ou recitar seus versos pelo olhar da lucidez ou da razão. Há momentos em que, inesperadamente, surpreendo-me ao ler uma jorrante frase, ainda sendo escrita numa página em branco, como ali na calçada da matriz, observando o povo sendo invocado pelas badaladas de um sino, e vão chegando à conta gota para a procissão do Senhor do Bonfim, no primeiro dia do ano.
               Um fim de tarde, ainda ardente, se dissipa devaga, esticando cada vez mais o mormacento dia, imerso em incisiva claridade. Espera-se que o deus Rá dos antigos egípcios se acalme, para que o cortejo do santo comece. Dizem que em cada cm2 do planeta recebemos, em média, duas calorias de vital radiação solar por minuto, mas tenho a impressão que esse número está bastante subestimado, de forma bem grotesca, pois até as plantas se abanam de tanto calor e sufocam ao realizarem uma banal fotossíntese.
              Enfim chega o momento em que Pe. João Batista autoriza o início da cerimônia com um forte comando emocional: — Viva Jesus Cristoooo! As pessoas, autômatas conscientes, respondem: — Vivaaa!!! Foi como se ligar um botão, a multidão caminha e celebra em cânticos, a me lembrar o Rei Davi, pulando e cantando em êxtase. Seguem um arranjo floreado onde se encontra a imagem de Nosso Senhor pregado na Cruz, nosso querido Padroeiro. Desfilam liderados por três coroinhas, com uma cruz ladeada de luzes abrindo caminho pelas ruas da cidade. Na frente do andor o Bispo Dom Jacinto e os Padres, que vestem uma túnica branca como aquela de cor púrpura que foi vestido em Jesus na casa do perverso Herodes.       
               O carro de som, um potente trio elétrico de milhares de watts de potência, toca a marcha como um animado bloco de carnaval em ladainhas e rezas acompanhado dos estouros de fogos de artifícios no ar, que devem ter feito salivar algum cidadão - o sistema nervoso central condicionado, como nos cães que salivam por um pedaço de carne ao ouvir uma sirene – e que vive a confundir todo rojão com o festejo da cannabis sativa chegando à cidade.
               Nas épocas de incertezas somente a fé e a oração é que podem oferecer alguma segurança na vida. Dizem-me os excêntricos poetas, tudo que é maravilhoso está entre as brumas e o que os encanta mesmo é a própria incerteza. Livrai-me da persuasão destes vates, da convicção dos loucos e da ingênua fantasia das crianças. Vade retro! Prefiro mesmo ser um simples matuto do pé rachado. 
               A ciência também me assusta, com suas descobertas que me cheiram a bruxarias pelo potencial de sondar o invisível e espiar o infinito. Chegaram a descobrir que no mistério de um sem fim, equilibra-se um planeta, como nas asas de uma borboleta, confirmando o que me disse uma vez meu amigo Guimarães Rosa, nas trilhas de um sertão, quando nada acontece é porque há um milagre que não estamos vendo. Como uma magia, chamada de El Niño, que impede a ressurgência  de águas frias e profundas nas costas da America do Sul, no oceano pacífico, mudando todo o clima do planeta Terra-Água. Comprovaram até que a feia seca é um fenômeno periodicamente decenal e a expõe num fadado calendário: 71 e 72... 81, 82 e 83... 92 e 93... 2002 e 2003... Meu Deus! Socorra-nos, São José! Se até o dia 19 de março a chuva não vier, vamos caminhar e suplicar em mais uma longa procissão.
               De todas as procissões, a que mais me move e comove é a medieval celebração de Corpus Christi, em adoração ao Santíssimo Sacramento por ser uma fina arte de tapeçaria.
               Os fieis preparam tudo como numa grande festa na madrugada utilizando todos os tipos de materiais: serragem colorida, borra de café, farinha, areia, acessórios como tampinhas, folhas e flores, muitas flores coloridas atapetando o chão com uma belíssima obra que não deixa nada a desejar para arte e a cultura da antiga Pérsia. Na quarta-feira do dia 7 de junho deste ano de Nostradamus, se as surpresas dos caminhos não desviarem meu trajeto, quero presenciar essa magnífica diversão para os olhos e vigoroso júbilo para a alma.
                As cerimônias religiosas absorvem a minha vista e o meu espírito neste grandioso espetáculo de entoar preces com imagens expostas pelas ruas, dignas de veneração.
                Na Semana santa há a comovente Procissão do Encontro. A vida é a arte do eterno encontro, embora haja tanto desencontro pela vida, versejou o poeta Vinicius. 
                Os homens saem da Igreja de São Francisco com o Senhor Morto, coroado de espinhos, ensanguentado, escarrado e carregando a cruz nas costas, é a imagem do Senhor dos Passos.
                As mulheres, da Igreja de São Vicente, levam a imagem de Nossa Senhora das Dores, e as acompanha a piedosa Verônica que enxugou o rosto de Jesus numa toalha, ficando ali estampado uma face, e também a devota Maria Madalena, a que voltou na madrugada do sábado para ungir o corpo de Jesus com os perfumes que havia comprado, e então um Anjo lhe comunica que Ele havia ressuscitado.
                 Encontram-se, na frente da Catedral, numa emocionante dramatização da cena do que aconteceu naquela sexta-feira santa, recordando as dores de Nossa Senhora com o martírio de Jesus.
                 Devo me lembrar que todo dia é propício ao encontro, para que possa olhar no olho do irmão sol e sentir o resplendor da vida, para me confidenciar com a amável irmã lua e poder me encontrar comigo mesmo, seguindo neste cortejo maior ao encontro do Supremo Princípio, palmilhando nesta solitária procissão em que vou ao abraço do paternal  Senhor do Universo.

 Raimundo Candido.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

I ENCONTRO CEARENSE DE ESCRITORES- IPU

PROGRAMAÇÃO

Dia 13 de janeiro de 2012 (sexta-feira):

18h – Credenciamento e recebimento de material.
20h – Apresentação de DVD sobre a Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes.
20h30min – Abertura do 1º Encontro Cearense de Escritores.
20h45min – Posse de novos acadêmicos.
21h – Lançamento da Revista nº 2 e do Livro dos Patronos da Academia
Ipuense de Letras, Ciências e Artes.
22h Encerramento com coquetel
 
Dia 14 de janeiro de 2012 (sábado)

18h – Palestra sobre Educação Especial
Palestrante: Celeni Penaforte, membro do Conselho Estadual de Educação
19h – Bazar das Letras: Mariposa são feitas de cobre
Participação: Francélio Figueredo
Mediação: Carlos Vazconcelos
19h30: Palestra Como editar e escrever um livro.
Palestrante: Assis Almeida
20h – Performance poética.
Participação: Airton Soares
20h30min-Palestra
Participação: Ana Néo
21h30 – Recital poético
Participantes: Grupo Abraço Literário
22h – Encerramento com o Encontro dos Ipuenses.
 
Dia 15 de janeiro de 2012 (domingo)

9h30- Apresentação musical Gevan Siqueira
10h – Lançamento do livro Devaneios, Delírios e Desamores.
Autor: Bernivaldo Carneiro
10h30m – Performance: Toadas, Abôios e Poesia..
Participação: Poeta Chico Neto
11h – Lançamento do livro Cuide bem do seu jardim
Autor: Airton Soares
11h30 – Performance: Mala de prosa e verso
Participação: Poeta Lucarocas.
12h – Performance: Um toque de vida
Participação: cantor e compositor Cayman.
12h30m – Divulgação da cidade interiorana que sediará o 2º Encontro
Cearense de Escritores. 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012



A HOMENAGEM

Dia 15/12/2011, no evento de posse da nova diretoria da ACE, do lançamento da 2ª Antologia e da confraternização natalina realizada na FIEC, a Associação Cearense dos Escritores - ACE - homenageou com o Diploma Mérito Cultural, a educadora crateuense Maria Delite Menezes Teixeira. Familiares da homenageada e representantes da Academia de Letras de Crateús – ALC – estiveram presentes ao evento, aos quais a ACE agradece. Na ocasião li a biografia (resumida) da Dona Delite, sobre a qual faço a postagem neste blog para que os internautas conhecem um pouco da vida desta educadora:
Maria Delite Menezes Teixeira nasceu em 24 de julho de 1918, na fazenda Gameleira, Piauí. Poucos dias após o seu nascimento, veio para o Ceará, residindo na fazenda Ponciano, no município de Crateús. Em 1939, Maria Delite cola grau como normalista do Colégio das Dorotéias, de Fortaleza. Em 1954, realiza o seu maior sonho: inaugura o Externato Nossa Senhora de Fátima, em Crateús. As salas de aula desse Externato, palco da vida de Maria Delite, eram frequentadas por pessoas distintas entre si nas suas origens sociais e étnicas, mas que recebiam o mesmo tratamento da Mãe Delite, como era convocada, pois constantemente ela saía de si para aconselhar, ouvir, orientar quem a procurava. Os seus olhares humanos estavam sempre insones para os que nela buscavam afeto e palavras que animassem e reconstruíssem o nível da esperança. Aluno que fui dessa eterna Mestra, relembro a senhora austera editando contemplações firmes, apontadas para nossa adolescência. Tínhamos medos. Mas hoje reconhecemos que essa assustadora severidade da Dona Delite não era de intimidação, de arrogância, de ameaça, mas trechos da coletânea do respeito ao nosso futuro. Ela desejava que seus alunos — extensão da sua família — fossem vitoriosos, e só o seríamos se conduzíssemos em nossos sonhos a firmeza da dedicação na realização dos nossos objetivos. Em 14 de outubro de 2011, Maria Delite Menezes Teixeira, a orientadora de vidas, recebeu, entre outros reconhecimentos públicos, o titulo de Cidadã de Crateús. Merecida homenagem a essa representante da simplicidade. O ético e humano Diacordo, personagem do meu livro de crônicas Por quem somos, afirmou: Silas, a Dona Delite é uma das construtoras do Estatuto da subjetividade. No dia 16 de novembro de 2011, aos 93 anos, dos quais 64 dedicados à educação de gerações de crateuenses, a mulher guerreira e de bom coração se ausenta definitivamente do nosso abraço físico. Mas sabemos que do mundo espiritual a sua força de vida continuará atuando em favor da realização e felicidade humanas. É dela esta frase: “Dediquei toda minha vida ao magistério".

Silas Falcão

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012


                                                                     Sangradouro Santo
Um entardecer sobrevem lento e atrasado, se desvanecendo preguiçoso como a impedir mais uma noite densa e sombria sobre o gueto. O tempo desce feito uma brisa carregada de presságio, anunciando martírios e a gotejar pesadas aflições na branca eternidade guarnecida por arame farpado, num bairro judeu.  Um vulto baixinho,de cabeça raspada num pijama listado de azul e branco com uma rubra insígnia triangular colada no peito, escorrega furtivamente por entre sombras de antigos prédios, desviando-se de olhares traiçoeiros da cruel Gestapo que perscruta até as batidas de um emudecido coração.
 A fome, o frio, o trabalho extenuante e as doenças infecciosas, como o tifo, já exterminam os judeus bem antes da vergonhosa “Solução Final” que caracterizou o holocausto.  As pessoas morrem pelas ruas e os encarregados não dão conta da remoção dos cadáveres. Removidos pela manhã, novas pilhas se formavam à tarde. Crianças brincam nas calçadas, em meio a corpos apenas cobertos por folhas de jornais. O tempo, como o conhecemos, das horas, dos dias e dos meses, não existe. A existência, pesadelo atroz, é conduzida entre um infortúnio e outro. Uma rala sopa diária, de batatas podres, é a única refeição com uma bisnaga semanal de pão, que completa a fraquíssima refeição.
O cozinheiro Fredy Kurtz, nosso vulto baixinho aprendera russo só para pregar o Evangelho aos companheiros desliza encoberto pelas sombras e traspõe um longo pátio levando sobras de comidas para os colegas de infortúnio. Alfredo pensa em Maximiliano Kolbe, mártir da caridade, que se voluntariou para morrer de fome no lugar de um pai de família, quando é surpreendido pela Polícia Nazista e, neste instante, relembra-se das brancas montanhas da Suíça, onde gozara a infância. Em 1945, num ato de ousadia próprio de uma alma inspirada, foge. Estranha a indiferença dos exaustos soldados arianos, com quem se depara pelo caminho e percebe, com alegria no peito, que a cruel guerra chegara ao fim.
Ali, naquela lastimosa estrada, recuperada a liberdade, um dos dons mais preciosos da humanidade, toma três decisões importantíssimas para sua vida: tornar-se padre, trabalhar com os mais pobres entre os pobres e jamais vestir outra roupa que não reproduzisse o modelo do uniforme do campo de concentração, em memória de seus companheiros mortos.
Se a porta da percepção estivesse sempre aberta a nossa frente, veríamos como são infinitos os caminhos para as possibilidades. Ao escapar da morte no caminho da liberdade e o fogo divino o ilumina e o sagra espiritualmente, como senhor das forças e dos dons que já o habitava, é  sinal de grande benção. E naquele incomum lugar, nasce o místico Afredinho.
Na linha tênue que sincroniza coincidência e destino, sempre se manifesta o anonimato de Deus, como na união do alimento com a vontade de comer, da refrescante água com a desconfortante sede, como no benéfico encontro do Pe. Afredinho com o saudoso Dom Antônio Batista Fragoso, no propício sertão de Crateús.
Já ouvira falar desta terra distante, cheio de sacrifícios, de pelejas, de espinhos como os pregos da cruz e também soube que reside um povo que nunca esmorece, nunca se entrega como os mandacarus no tempo da seca. Igual ao sertão de Guimarães Rosa, onde viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... É uma travessia perigosa, mas é a vida.  
Soube que neste semi-árido nordestino marcado por estiagens periódicas e, sobretudo por injustiça para com os mais necessitados, havia uma Diocese que era considerada como um espinho na garganta da famigerada ditadura militar, reputação devida ao famoso bispo, Dom Fragoso, que fizera opção preferencial pelos pobres. Isso o agradou e com um sorriso franco no rosto, decide vir para encontrar-se entre os mais pobres.
Há uma palavra marcada com ferro em brasa na fronte da sociedade brasileira: Prostituição Infantil. A mais triste e antiga das misérias da humanidade que corroí o nome da pátria, não do país do carnaval, não do país do futebol ou da corrupção, mas a pátria de Irmã Dulce, a de Dom Helder e a de Dom Fragoso. A violência e o abuso sexual dentro de casa, o abandono, a fome, a miséria contribuem para que essa chaga vergonhosa faça com que uma digna mulher se humilhe e se venda como uma simples mercadoria.
Logo ao chegar por aqui, o Pe. Alfredinho é levado a visitar uma jovem vítima da prostituição que estava morrendo de tuberculose.  A difícil “vida fácil’ daquela menina-prostituta (Antonieta é seu nome!) condói em seu coração. Enquanto a maioria desvia o olhar para longe, os olhos do amor têm uma preciosa visão daquilo que se rejeita. Uma visão que se torna clara à medida que se olha para dentro do coração, pois a nossa única riqueza é ver. É fácil enxergar além do que nossos olhos são capazes, pois a dor - ao contrário do prazer - não tem máscara. A prostituta confessa-se com o Padre Alfredinho que lhe responde, suavemente:  “ Antonieta, somos nós que devemos pedir perdão a você. Perdão pelos pecados de uma sociedade que não lhe ofereceu outra alternativa de vida. Como Jesus prometeu Antonieta, você nos precederá no Reino de Deus. Interceda por nós.”
Afredinho, ao criar a Irmandade do Servo sofredor (ISSO) disse: “O pior do mal não é matar o homem, mas matar a imagem de Deus no homem. A força do mal não procura destruir o ser humano, mas Deus nele” A missão da irmandade é restaurar o rosto desfigurado, o rosto machucado do ser humano. Se uma parte está desfigurada toda humanidade está desfigurada. Se um único ser humano for rejeitado, toda humanidade será rejeitada.
São Francisco de Assis dizia que o homem vale pelo que é diante de Deus e mais nada. A verdadeira humildade é uma grandeza e diante dos inferiores é uma nobreza.
A pureza no coração de Pe. Alfredinho é inseparável de sua simplicidade e de sua inerente humildade. É estranha essa qualidade... No momento que achamos que a temos... Já a perdemos. Numa tarde ensolarada, o Padre caminha concentrado pela Rua Frei Vidal com passos curtinhos e apressados, sem o baboleio característico dos braços que se apóiam em duas surradas sacolas a tiracolo. Quando se emparelha defronte a um frondoso Benjamin, pára e entra na residência de Dom Fragoso. Em ato contínuo lhe pede a benção: — A benção, Dom Fragoso! O Bispo, homem digno, nobre e naturalmente humilde, em respeito ao padre, responde: — Que é isso, Alfredinho? Eu é que tenho que lhe tomar a Benção... – A benção, Alfredinho! Riem os dois, e também sorri mais Alguém, lá em cima, daquela demonstração de franqueza e modéstia.
Sacrifício é algo que vai além dos meros significados contidos no dicionário, como renúncia, abnegação ou ofertas. Sacrifício é vida, nos diz o fundador da Irmandade do servo Sofredor. A missa é um grandioso e santo sacrifício. A maior de todas as ofertas solenes, que já existiu na face da Terra, foi a morte de Jesus Cristo ou quando Abraão, com o coração partido e os olhos lagrimejando, levantou-se naquela bíblica madrugada e foi imolar Isaque, seu único filho, em obediência a Deus. Alfredinho reza, sem comer há dias, deitado no duro chão da Igrejinha de São Francisco, em habitual sacrifício e lhe servem somente uma salobra água de coco. O povo implora para que ele pare. Não entendem, como pode um raquítico homem suportar tanto tempo sem comer! O ano de 1983 começa particularmente difícil, depois de três anos seguidos de seca no sertão de Crateús. O dia 19 de março já se foi e São José não mandou a abençoada chuva. O gado morre de sede e de fome, o agricultor não semeou o chão. E alguém associa o sacrifício de Alfredinho a uma grave de fome para que o Céu mande a redentora chuva. Será que Deus está cego, surdo e mudo que não ouve a clemência deste pobre homem? Será que, mais uma vez, nos abandonou? Não! Um outro grita, lá do meio da rua. Ele ouviu!!! No décimo quinto dia, quando já chega ao fim o sacrifício, cai um providencial aguaceiro salvando o sertão. Uma multidão dirige-se a igreja, e o aclamam e o veneram como a um santo.
Quando, numa seca violenta, os sertanejos vinham para a cidade sem nada, pedindo comida e trabalho, eram considerados pelo exército, pelos comerciantes e pela polícia como invasores e inimigos. Alfredinho tomou a frente e disse: Invasores não, são irmãos que precisam de nós. Então sugeriu que se colocasse um cartaz nas casas, com a sigla PAF (Porta aberta ao faminto), isto é, vocês não são invasores. Mais de 2000 casas colocaram os cartazes e acolheram os pobres irmãos do interior.
No período de estiagem extrema, onde a fome aperta como um dolorido cinto e o êxodo rural expulsa o homem do sertão, os governantes abrem as inoperantes emergências para sustentar o trabalhador do campo. Alfredinho se alista na frente de serviço do Sangradouro da Santa Fé com o único propósito de ser presença viva da fé, sem remuneração e relembra o tempo do sofrimento e da opressão nos campos de concentração. Como um Dom Quixote, o cavalheiro de triste figura, vestido com uma armadura medieval, um elmo na cabeça para evitar a insolação, leva um carrinho de mão cheio de barro, num vai-e-vem constante, parando para descansar e rezar pelos irmãos ”Ouve, Senhor, a justa causa; atende ao meu clamor...; dá ouvidos à minha oração...” No final celebra, como o profeta Isaias, a vaticinar de seu altar ”: O sangradouro da santa fé, como Jesus, um dia vai verte água e sangue ...”  Santo Sangradouro... Santo Alfredinho, que ali, continua presença viva pelos pobres e ainda sangra...

Raimundo Candido

José Alberto de Souza disse...
Nesse capítulo, você fala em Guimarães Rosa, que ainda estou devendo, e me lembra de Graciliano Ramos, que ainda estou pagando...Mas quem lê Raimundo Cândido que outra imagem mais pungente e vigorosa pode encontrar para sentir o drama dos excluidos desta nossa sociedade impermeável a qualquer altruísmo!



Paulo Nazareno disse... 





Meus Deus! Primorosos textos esses do J.Bonfim e Raimundinho Cândido.Fiquei zonzo.Cada um no seu cada qual,usaram do "chicote do corpo"(língua/palavras)de modo maestroso. Tem gente assim;uns dizem ser dom, outros inspiração.Não interessa! Cabe a nos,pobres mortais,o privilégio de poder sorvê-los à conta-gotas, a sílabas por síbalas, nesse misterioso exercício da inteligência e da superação humana. Suas bençãos!

Convite

Você é nosso (a) convidado  (a) especial!
Venha participar do lançamento do livro
“HISTÓRIA DOS EVANGÉLICOS EM CRATEÚS”
Zacarias Alves Beserra
Local: Igreja Batista
(Rua Marechal Hermes, com a Rua Juarez Távora)
Data: 12/01/2012
Horas: 19:30hs.
Conto com tua presença!
(SIC)

FELIZ DIA NOVO!

Tudo tem uma primeira vez na vida. Pela vez primeira passei um réveillon fisicamente distante dos meus rebentos. Por um dever de ofício, mas, sobretudo arrebatado de ardente paixão por uma causa, fiquei no plantão judiciário do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, pleiteando um alvará de soltura para um sexagenário pai de família que estava lançado às agruras da masmorra, à escuridão das catacumbas, à solidão do cárcere. Sentinela da liberdade – assim me senti.
Um colega de escritório me ligou e disse: “você já fez tudo o que era possível. Vá ao encontro de sua família”.
Porém, algo me dizia que eu devia ficar. E fiquei. Era uma forma de me solidarizar com a dor de outra família, separada não por uma decisão voluntária, mas por uma imposição sistêmica.
Todo ritual de passagem – e o conjunto de gestos e decodificações simbólicos na travessia de um ano para outro é exatamente isso – tem um forte apelo à transformação. É um mergulho nas águas batismais do Jordão. O incenso que exala do ciclo de alteração anual é um convite a um passeio pelos labirintos da memória e ao êxtase do sonho da projeção. Daí o mantra “Feliz Ano Novo!”.
Repisando o gramado do itinerário pessoal, fiquei relembrando algumas lições que solidifiquei ao longo de 2011. Quero compartilhar três delas.
A primeira é a tradução daquele longevo ensinamento dos nossos ascendentes: “fazer o bem sem olhar a quem”. No que pertine a esse mandamento, somos sempre estimulados a distinguir quem é merecedor e quem não o é. Evite isso. Faça o bem sem olhar a quem. Faça o bem! E não espere atitudes de retorno ou gestos de gratidão de quem, naturalmente, deveria prestá-los. A vida nos surpreende. Quantas vezes, sem explicação plausível, recebemos recompensas incomensuráveis de pessoas que nenhum débito tem para conosco?! Quase sempre a bondade retorna para nós por vias desconhecidas, surpreendentes e inimagináveis!... Por isso, faça o bem sem olhar a quem!
A segunda: alimente esse vulcão indomável, essa cachoeira silenciosamente rumorosa, essa árvore singela de raízes colossais chamada fé. Descobriu-se que o átomo, a menor partícula de um elemento químico, é pura energia. O maior fenômeno da evolução tecnológica, a transmissão de dados por via digital, que aparentemente parece fruto de ímpeto materialista, só se concretiza porque as pessoas crêem. Crêem que, instantaneamente, imagens podem ser enviadas de um extremo para outro do planeta. Tudo é energia, inclusive nós. Ironicamente, é preciso se ter muita fé para não acreditar em Deus...  
A terceira é: renove. Inove: renove-se continuamente. Alguns gênios do nosso cancioneiro conseguiram a façanha de revestir melodias bonitas com conteúdos de linho filosófico. São profetas da composição. Suas músicas se incorporaram às partituras de nossas almas. Gonzaguinha – oh! quão cedo se foi! - quedou-se imortalizado em pérolas compositivas carregadas de interrogação e exclamação. Em uma delas, O Que É, O Que É?, com a singeleza de um infante, traduziu esse espasmo mágico de quem ainda mantém acesa a brasa da infância:  “Eu fico/ Com a pureza/ Da resposta das crianças/ É a vida, é bonita/ E é bonita.../ Viver!/ E não ter a vergonha/ De ser feliz/ Cantar e cantar e cantar/ A beleza de ser/ Um eterno aprendiz...”
Chico Buarque, no hino filosofal intitulado Todo o Sentimento, fala-nos do encantamento com o tempo da delicadeza. A delicadeza é encantadora. Dilata a mente, desobstrui artérias do corpo e da alma, cura feridas, revitaliza o ser. Eis o desafio para 2012: inaugurar o tempo da delicadeza! Tornar diário o mantra anual. Ao invés do voto de um ano novo, fazer a cada manhã os votos de um dia novo. Construir e desejar Feliz Dia Novo!

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

SABI abre inscrições para oficina de Grafite


A SOCIEDADE AMIGOS DA BIBLIOTECA NORBERTO FERREIRA FILHO – SABI, ATRAVÉS DO PONTO DE CULTURA “CULTURA É PARA TODOS”, ABRE INSCRIÇÕES PARA OFICINA DE GRAFITE COM MONITORIA DE JOÃO HENRIQUE (BISOURO), AS INSCRIÇÕES VÃO ATÉ DIA 09 DE JANEIRO E PODEM SER FEITAS NA SEDE DA SABI, SITUADA À RUA DO INSTITUTO SANTA INÊS, 231 – CNETRO, PRÓXIMO A PM.
A OFICINA INICIARÁ DIA 10/01/2012 E ENCERRARÁ DIA 13/01/2012 E ACONTECERÁ NO PERÍODO DA MANHÃ DE 09:00H AS 11:00H.

PARTICIPE E GARANTA SUA VAGA!

REALIZAÇÃO:
SABI – MINISTÉRIO DA CULTURA

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Primeira Reunião 2012

Amig@ Acadêmic@,

Vamos nos encontrar?

Nossa primeira reunião em 2012 será na quinta (05.01.2012) às 17:00h na nossa sede (rua do Instituto Santa Inês, 231 - Centro), aqueles que estiverem por aqui venham, nós vamos fazer uma Avaliação de 2011 e Planejar as ações para 2012.

Pra você:

Desejos
Desejo a você 
Fruto do mato 
Cheiro de jardim 
Namoro no portão 
Domingo sem chuva 
Segunda sem mau humor 
Sábado com seu amor 
Filme do Carlitos 
Chope com amigos 
Crônica de Rubem Braga 
Viver sem inimigos 
Filme antigo na TV 
Ter uma pessoa especial 
E que ela goste de você
...
Carlos Drummond de Andrade

sábado, 31 de dezembro de 2011


Juízo Final

Não chores!
É verdade.
Chegamos ao extremo
supremo das eras!
Há 14 bilhões de anos
que a poeira se assenta
e, inevitavelmente,
fecharemos para balanço!
Um estranho alinhamento astral será o sinal,
o sul engolindo o norte num gelo antártico,
banhará meu sertão em ondas de mar,
feito os primitivos oceanos que se exaurem!
Desse Armagedon,
ou Apocalipse, como queiram,
se procriará um novo e geológico mapa,
num quadro sinóptico de Juízo final.
E confirmaremos Nostradamus arcaico,
 até os arqueológicos Maias,
antes que o ultimo grão de poeira caia!

Raimundo Candido

Hoje você me vaticinou
Isto que está acontecendo
Em nosso pobre planeta
Rumo a miseráveis desditas,
O mar invadindo a terra
Fazendo estragos incalculáveis,
A clamar desesperado socorro
Nossa natureza maltratada,
Toda devastação impune
Em que o desatino impera!!!

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Os poemas? Benditos: não envelhecem!

Dizem que algumas coisas não envelhecem:
o amor, os sonhos, os poemas... Benditos sejam!
Ha 11 anos, carrego nas costas um poema
que nascia com o novo milênio
tão menino, tão franzino, tão magrelo...
já nascera, porem, menino-velho!
Daí, só renova, so engorda, só encharca...
está obeso e vive a me escambichar.
Não vou mais chamá-lo de poema,
para ver se me livro dele,
maldito ditado
que transcrevo abaixo:

VELHOS TEMPOS DO FUTURO

Elias de França

Amanhece, e eu de novo à janela.
O céu continua azul;
o sol, deslumbrante, ilustra o nascente;
o mundo tem nova data marcada para acabar: segundo os Maias, 2012; e conforme Juscelino Nobrega da Luz, 27 de outubro de 2013.

Passam os bêbados de volta da noitada,
patinando na lama dos esgotos da rua,
tropeçando em latas de cerveja, copos plásticos,
aspirando poeira, vômito, enxofre...
detritos do homem descartável
em festa de reveillon.

Ainda sobre a calçada,
toda a vizinhança em sacos de lixo
de um ontem tão distante...

Zé Porfírio ainda vive, servindo raro leite, na sua velha carrocinha -
mas já não lhe sou freguês:
hoje bebo pó sintético de cereal transgênico,
dada a intolerância à lactose;
o jegue Stalone não teve a mesma sorte: foi atropelado por um caminhão,
não sem antes ter matado minha muda de palmeira,
e em seu lugar plantei um pé de Nim Indiano.
Totó-da-Bodega faliu!
Aí escapuliu, se aposentou e mudou-se para a capital.
Agora passo o cartão no supermercado da cidade,
E sigo pendurando faturas aos fins dos meses...
A casa vizinha virou uma lan house, um cyber sem café, sei lá o que mais...
os sons sintetizados de supercarros de formula 1, nos games,
redundam em meus tímpanos...
Morro de saudades daquele cheiro de CO2 colorido de cinzas, que enevoava toda a rua – Não desse gás catalisado, incolor, insípido e inodoro,
que todos devoram sem tapar o nariz
e nos dilacera oculto os brônquios -
e do barulho cansado da velha Brasília vermelha,
há dez anos vendida no quilo para o ferro-velho...
A banda militar, ao longe, estranhamente,
ainda toca os velhos refrões,
ensaia as “antigas lições”,
de coturnos em teimosia com o asfalto,
enquanto jovens praças
rondam minha rua em modernas volantes.
Vez em quando, tais coturnos se divertem chutando-pisando estudantes e professores, nos campus ou na casa do povo...

Não há robô algum a recolher dejetos,
nem naus espaciais zanzando em meu beco.
Nem mesmo o carro-pipa que abastecia os baldes nos socorre,
pois se encontra no prego no quilômetro 15 da rodovia,
com o diferencial quebrado
e não se fabricam mais peças para sua manutenção...
Aí bebo água tônica comprada a preço de prata
e me banho no canal,
que um dia já foi um rio com nome indígena,
cuja pronúncia me foge à memória...

É 2012, como se fosse ontem...
um ontem tão distante
que insiste em não desaparecer,
com todos os seus resquícios
da “parte rudimentar” da história humana...

É 2012, igualzinho ao ontem,
o ontem tão distante
que não desapareceu,
com sua pobreza, seus males e fracassos...
É 2012, o mesmo que ontem,
que tanto mais mude, tanto mais cresça, tanto mais se modernize,
tão mais velho fica o ontem,
assim tão distante e tão presente.
E eu que tanto já ralhei, gritei, indignei...
continuo a ter amigdalite na garganta operada;
tempero de veneno o repolho, prevenindo a teníase;
respiro caltin para não morrer de dengue;
tomo resignado meus coquetéis de pílulas diários,
um para cada mal,
e tomaria até a vacina contra a gripe suína, se houvesse, ao menos, uma dose disponível...

e vou ao templo todos os dias
louvar ao criador
pela graça de ver a aurora do novo ano,
que me nasce à minha imagem:
enrugado, esclerosado, demente, insano...

Epitácio Macário disse...




Eu conheço bem esse poema, que está mais encorpado porque mais real. E conheço não apenas de oitiva, mas de vida mesmo. Pois sou um dos que privou da companhia cotidiana deste "velho poeta" por alguns anos, na primeira juventude. Já o citei em crônica intitulada "presente de natal", não por protocolo, senão porque sua mensagem se impunha.

Raimundo Candido disse:

Existem os poemas tradicionais, os poemas livres, os poemas sujos, os poemas práxis, os poemas concretos, os poemas experimentais; são tantos, que é bem difícil a gente enumerar todos. Li agora mesmo, para minha surpresa, um poema caramujo! Uma concha que foi se formando nas costas de um menino magricelo até se compor nesse caracol poético que nos brinda com uma aurora de um ano  novo... Feliz 2012, poeta, profeta Elias!

Há pouco li que perguntaram numa competição estudantil do antigo rádio - em que século foi descoberto o Brasil XV ou XVI - o que deu uma polêmica danada, acabando por encerrar o programa. A mesma coisa aconteceu em 1º. de janeiro de 2000 quando toda a midia saudava um terceiro milênio que ainda era segundo. Porém, me permitirei fazer um exercício numerológico - que se repare a mudança na "quilometragem", de 1999 para 2000 não restou qualquer dos passados algarismos. Será que esse fato não teria influido de alguma forma em nossas percepções extra-sensoriais? Afinal o que nos afetou ao ingressarmos no "buraco negro" desse fantástico limiar?

Elias de França Disse...
Alberto, você levanta uma questão muito relevante... Como todo mundo eu pensava que o novo milenio começava em 2000. Esse poema, de fato nasceu em 1999, e o ano que repetia era 2000 (que diziam que nele o mundo ia se acabar, uns, enquantos outros que íamos atingir o triunfo tecnico-espacial). De fato, sua metáfora (um buraco negro) é muito oportuna. Em todos os aspectos - meio ambiente, economia, relações sociais, sentidos subjetivos, estruturas urbanas... tudo parece um caos, um buraco negro. Ou então somos nós que estamos em colapso sensorial e nao conseguimos interpretar as coisas com lucidez. Grande abraço!