terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Natal (Isis Celiane)


Nas casas onde as luzes não brilham
Sem enfeites ou mesa farta
Há lá no canto do quarto dos sonhos
Um menino a escrever uma carta

Desenha compassadamente as letrinhas
Confusas linhas de uma clara esperança
Não é brinquedo que deseja o menino
Não há qualquer devaneio de criança

Tudo que pede a esse desconhecido velhinho
É que venha depressa e chegue ligeiro
Trazendo no grande saco das ilusões
Comida que o alimente o ano inteiro

E vai para a janela o menino
Dia após dia, sozinho esperando
E na solidão de sua espera amarga
O tempo sem trégua vai passando

Até que apagam-se as luzes e calam-se os sinos
Tudo agora volta ao normal
E o menino recolhe-se ao canto dos sonhos
À espera solitária de mais um Natal.

Elias de França disse...
Lindo, poeta! Essa me tocou bastante. Desmascara a ilusão de que a esperança é auto-aplicável e resolve a vida por si mesma. Nada contra quem aproveita os festejos natalinos para encher a paisagem de luzinhas, musiquinhas com tons tilintantes, cores, cartões de mensagens... Tais ações até podem semear esperanças, mas comida, bebida, diversão, arte... amor, tantas outras necessidades humanas precisam ter materialidade tambem na realidade concreta e não apenas na fantasia. O proprio sentido da vida fundado na ilusão é meio que um sentido sem sentido. Parabens e obrigado por nos lembrar que toda a ostentação apelativa em torno do natal não é bastante para chegar no cantinho das casas dos mais pobres.
E quanto ao estilo? Delicioso! Você acaba de nos apresentar um poema a la Bandeira!
Isis Celiane disse...
Obrigada, Elias, pela bela observação sobre o que escrevi. Percebo que os poetas são poetas em todas as situações, tranformam em poesia tudo que falam. Parabéns!Abraços...

Um comentário:

  1. Obrigada, Elias, pela bela observação sobre o que escrevi. Percebo que os poetas são poetas em todas as situações, tranformam em poesia tudo que falam. Parabéns!
    Abraços...

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