segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

SER SEM SE RESSENTIR (Rogerlando Gomes)

No natal tudo que é humano se maravilha
e transborda todo ser - a humanidade brilha.

Brilha enfeite, presente, brilha, brilha ceia.
Brilha se excede se cede à bebida
e se inebria amor ou ressentimento - se extravase vida.

Os indiferentes também brilham transbordante humanidade
- Mesmos as mais frias e as mais ascetas pupilas cintilam.

O asfalto nos cintila e nós faróis, nós aros, nós prédios
cintilamos muitíssimo mais nos egoísmos e nos assédios
comerciais e de amor, ande pela 25 de Março, desfile na 5ª avenida
ore a Alá, vista burca e na China o vermelho
não seja das vestes do bom Noel, mesmo assim
desnude o cruel da existência oprimida
onde mais se suprima a liberdade de se rir de si mesmo,
sem, contudo, abolir o ridículo - o mal intenta elidir o bem
tornando o humor macabro também,
mas o riso não se contrita e, mesmo se atrita, vem à esmo
- O humano, a sucumbir, cintila e rir e o riso ilumina,
sem disfarce, a face da humanidade que a mais mínima faísca, me fascina:
a China não deixará o vermelho, a atingirá, Liu, o global vermelho humano.
E até a Coréia do Norte sairá do vermelho... que elimina
para o vermelho que de humanidade se contamina
que o globo ainda é a única esfera do universo que cintila
vida - e nutre a impar espécie, única ciente que cria, e aniquila.

O Natal, então, como o bem e o mal não é capital, capital à existência
humana é a liberdade de cintilar humanidade - e independência.

Que qualquer ato - acordar, rir, um beijo...um soco -, pois, nos seja vermelho.
Vermelho cor, vermelho ora ação cora vermelho coração.
E a humanidade tenha suas mãos por seu mais caro aparelho
De toque e de plantar, colher, fazer e todas as manhãs se dividir em pão
Em bebida, em riso e amor, mesmo o de intrigante rivalidade
Para que a gente, humanidade, não se ressinta de humanidade.



Um homem de várias facetas. Isso se pode falar, sem medo de errar, de ROGERLANDO GOMES CAVALCANTE. Todas elas voltadas para a produção artística . Com efeito, é na charge, no cordel e na combinação criada por ele dos dois (convenientemente denominada charge/cordel) que Rogerlando acentua mais o espírito criativo e crítico. Mas também há espaço para o desenho, para o ensaio, para a música e até para as histórias em quadrinhos nessa salada. Não por acaso, ele é um dos compositores do hino de sua cidade, Independência, localizada no Vale de Crateús, a 310 quilômetro de Fortaleza. (...) Thiago Barros –especial para O POVO. VISITE O BLOG DO PEQUENO: http://www.rogerlando.com/CHÃO INAUGURAL -2009, obra de estreia. O próximo livro, A MÁQUINA DO MUNDO, está no prelo.

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