segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

... e todo o resto!

Van Gogh - Stary Night

Havia algo
adoçando as noites de insônia
e lembranças de belas namoradas.
Havia alma,
e mais oxigênio na brisa matutina.
Eu pensava versos,
gemia cantigas
e enxergava com o coração...

Algo se perdeu no emaranhado de sonhos e tentativas,
levado pelo vento errante
com a poeira dos chinelos, ao caminhar.
Algo desbotou na retina embotada...
Gastou-se junto às botas...

O coração ficou cego:
não me deixa ver graça em viver.
O coração está surdo:
só ouço esvaírem-se os encantos
das melodias mundanas...
Salta, coração aleijado,
enquanto a vida corre
para lugar nenhum...

O tempo passa...
leva o doce
ficam as noites de insônia;
leva as namoradas,
ficam as lembranças tenras;
leva a alma,
fica o corpo cansado
implorando a piedade eterna;
leva a inspiração,
fica a brisa matutina
cada vez mais poluída;
leva o verso,
fica o pensamento repleto de remorsos;
leva as cantigas,
fica o gemido;
leva o coração,
ficam as pontes de safena...

O homem passa...
leva sua ganância,
fica sua fortuna;
leva sua esperança,
ficam as marcas dos seus atos;
leva sua arrogância,
fica o desprezo pelo seu ódio;
leva sua bondade,
fica a saudade;
leva suas derrotas,
ficam as chacotas;
leva suas utopias,
leva suas vitórias,
leva suas alegrias... suas agonias,
fica a história...
.
(Elias de França - do livro "cantigas do oco do mundo - poesia. Ed. independente, Fortaleza, 2002.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário