terça-feira, 23 de agosto de 2011

                                   CENTENÁRIA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE CRATEÚS
                                                  -  PATRIMÔNIO AMEAÇADO
                                                                                                                Edilson Macedo

                Causa tristeza e indignação cruzar os caminhos de ferro à altura de nossa velha Estação Ferroviária. Quem, como eu, cruzou a linha dos cinquenta, e tem um pouco de poesia nas veias, não pode deixar que a tristeza lhe invada a alma ao ver a degradação criminosamente imposta a este belo e importante Patrimônio Histórico de nossa Cidade. Estes antigos trilhos de ferro, onde tantas memórias estão incrustadas, partiram de Camocim, chegaram aqui em 1912, a exatos cem anos, quando, de Vila Imperial, passamos à então Cratheús, tal qual está escrito em alto relevo no pardieiro principal, ali onde comprávamos os bilhetes, de primeira ou segunda classe...  passaporte para mundos distantes, insondáveis, que víamos pelas janelas...
                Antes o trem transportava passageiros e seu patrimônio material era tratado com zelo devido. Hoje o descaso e o abandono põem-no em ruínas. Aquilo que o tempo, por si só, leva à bancarrota  não é reparado, e o que insiste em resistir ao seu labor a Empresa Ferroviária e atual Concessionária vai, aos poucos, sem que ninguém dê um pio,  transformando em escombros.
                Há pouco tempo atrás uns vagões carregados com enormes pneus arrebentaram os alpendres da lateral esquerda (sentido Crateús – Piauí) e a única providência da tal Empresa foi, depois de várias semanas, recolher o entulho, restos de telhas e madeiras, que foram abaixo num ato, a meu ver, de vandalismo institucionalizado – a Empresa tinha conhecimento prévio da impossibilidade do tráfego, dado o tamanho descomunal da mercadoria. Os belos alpendres, construídos em madeira- de- de- lei e antiga arquitetura denominada “Mão-Francesa”  viraram ruínas. Com eles, também, um pouco de nossa história e dignidade... Este crime permanecerá impune? Até quando o interesse financeiro suplantará os valores históricos e mesmo material de um povo?...
                Um carro em desgoverno bateu em galpão que funciona como oficina. A construção rija rachou, não caiu, foi por uns dias interditada, como continuou de pé, voltou a funcionar normalmente...  as rachaduras expostas, como ossos fraturados, esperam, por certo, providências divina...
                As velhas e inabaláveis pontes em ferro e aço, importadas da Inglaterra, resistem como podem, mas sofrem avarias  em pontos vulneráveis. As chapas de zinco que cobriam os dormentes e facilitavam a passagem de pedestres há muito sumiram. Quem por lá se aventura (e não são poucos os desvalidos) andam em corda bamba sobre abismo tenebroso. Dormentes soltos, apodrecidos, fendas enormes, fazem o martírio de quem por lá trafega, sejam crianças ou velhinhos. O constante resfolegar das locomotivas completam o ato de terror a que são submetidos. À noite, à falta de iluminação e sinalização de advertência em caso de aproximação dos comboios, o terror ganha status de bandeira dois. Há quem diga e argumente que as pontes não foram projetadas para tráfego humano. Esquecem, os incautos, que, além de destituídos de asas, nossa pouca fé nos impossibilita de caminhar sobre águas, ainda que poluídas...
                A Empresa Concessionária é protagonista ainda de outros tantos atos criminosos contra nossa gentil aldeia. Destruiu, sem nenhuma explicação, batentes outrora edificados para facilitar a vida de pedestres entre o Centro da Cidade e Bairro São Vicente.  Alguém pode explicar tamanha e desumana barbárie?...
                Diariamente comboios intermináveis de vagões, em movimento ou simplesmente estacionados, impedem a passagem de quem por ali precisa se locomover... ás vezes temos de escalar até três filas de carros estacionados paralelamente... haja coragem e coluna, meu santo do Bonfim!
                Os pátios, imundos, repletos de lixo e onde o mato viceja à rédeas soltas, sem nenhuma iluminação, estão agora repletos de valas abertas... como se não bastasse a distância que nos separa das oficinas de concertar ossos...
                A sinalização na passagem da tão movimentada Avenida Sargento Hermínio, cadê? Se antes, quando nosso transito era mínimo, existia, que razões fazem hoje desmerece-la?
                Enfim, amigos e amigas, seres e ceras, pergunto:
                - Quem deu tanto poder a esta empresazinha para que ela destrua impunimente nosso patrimônio e ponha em risco constante a vida de pessoas inocentes sem dá satisfação a ninguém?
                - Até quando esta Empresa continuará perturbando nossas vidas, manchando nossa história e zurrando pra nossa cultura?¹
                No ano de nosso Centenário, que maravilhoso presente seria a restauração de nossa Centenária Gare, com suas belíssimas Pontes iluminadas... brilhando sobre nosso indômito Rio... alumiando nosso futuro...  clareando nossos passos...
                Quanto custa? Muito, muitíssimo menos que uma vida humana...


1.       Com todo respeito aos nossos jegues, claro!

Paulo Nazareno disse...

Custaria bem menos que uma banda (ou seria bundas?)dessas de "forro" advindas do Glorioso Ministério do Turismo, que insistem em fazer das nossas ouças pinico, com seu ritmo primitivo, medular, impossível de ascender ao cérebro (se eh que ainda nao atrofiou de tanto ouvi-las) e letras imbecilizantes.

Terça-feira, 23 Agosto, 2011

Um comentário:

  1. Custaria bem menos que uma banda (ou seria bundas?)dessas de "forro" advindas do Glorioso Ministério do Turismo, que insistem em fazer das nossas ouças pinico, com seu ritmo primitivo, medular, impossível de ascender ao cérebro (se eh que ainda nao atrofiou de tanto ouvi-las) e letras imbecilizantes.

    ResponderExcluir