quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Troféu


 
             Ao caminhar pela belíssima Avenida Treze de Maio – antiga e poética Flor do Prado para quem não conhece a história de Fortaleza – saindo da Estação do Metrô (a funcionar brevemente!) no cruzamento da Rua Carapinima e subindo rumo a Igreja de Fátima, nos deslumbramos com uns arcaicos palacetes, réplicas europeias que pertenceram ao antigo Patriarca, Comerciante e Banqueiro sobralense José Gentil, fundador de um império e que deu nome ao local: Gentilândia, hoje Benfica.
            A residência principal do sitio, um magnífico solar, foi renovado e transformado na sede da Reitoria da Universidade Federal do Ceará. Uma gravura no muro daquele estabelecimento, subitamente, nos chama atenção. Num grafite gigantesco está o corpo nu de uma mulher com as veias expostas, representando aqueles que sofreram torturas e morte pela famigerada ditadura militar brasileira. Automaticamente pronunciamos o nome de muita gente, como: Frei Tito, Lamarca, Molina, Vladimir Herzog entre tantos outros.  O título do quadro é o lema positivista da bandeira do Brasil, invertido, como se fosse uma imagem no espelho. Inconscientemente veio-me, à memória, uma grave canção ao contemplar aquele simbólico quadro: Vem, vamos embora, que esperar não é saber...  
             Existe outro imenso painel em óleo sobre acrílico com o título “A verdade ainda que tardia” dependurado permanentemente nos corredores da Câmara dos Deputados, em Brasília, com imagens chocantes em cores fortes, das torturas praticadas pelo Governo Militar: uma mulher agoniza dependurada no pau-de-arara, outra se esvai em sangue pela vagina, um homem sendo afogado num pequeno balde, outro na cadeira do dragão sofrendo choques elétrico no pênis, enquanto um torturador aperta os parafusos da “coroa de cristo” sobre a cabeça de um cidadão e gravado no topo da obra está o verso de um grito de liberdade “Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura.. se é verdade tanto horror perante os céus?”. O artista plástico Alifas Andreato, doou a obra para o acervo da Câmara.
            A presidente Dilma Rousseff – que nos anos de ferro foi torturada e indenizada com 30 mil reais pelo governo de Minas Gerais – aprovou uma lei instituindo a Comissão Nacional da Verdade, que visa investigar as violações dos direitos humanos ocorridos entre 1946 e 1988, no Brasil. Os militares brasileiros, além de assinarem um protesto contra a Comissão, prepararam uma provocação, descumprindo uma ordem presidencial e comemoraram os 48 anos do golpe militar, combatido pela guerrilheira Dilma. De quebra, o polêmico cantor romântico Agnaldo Timóteo, defendeu a ditadura brasileira na Câmara Municipal de São Paulo, afirmando que durante o governo militar nunca houve corrupção, desvios de recursos públicos, lavagens de dinheiro, esquemas de influências ou mensalões, isso numa sessão da Comissão da Verdade e só faltou pedir que se implantassem o AI 6 sobre nossas cabeças, o que me trás pesadas recordações...
             A chegada do primeiro bispo na cidade, em 64, quando os militares já se dispunham a caçar comunistas e subversivos em cada esquina e não foi a festa que as elites locais esperavam, pois se decepcionaram ao ver um Dom Fragoso rejeitar as honrarias preparadas para ele, e se dispôs contente no meio de um humilde povo. Indispôs-se, mesmo, foi com uma Igreja de orientação ideológica conservadora ao optar pelos sem voz e sem vez.  E quando recusou o convite do 4º BEC para celebrar a missa em “Ação de Graças” pelo primeiro ano do golpe de 31 de Março, surgiram os primeiros conflitos.  Numa entrevista a um jornal falou da libertação da America Latina do jugo de todas as opressões!  E logo se ouviu falar em DOPS, Departamento de Ordem e Polícia social, em Crateús a implantar um clima de medo: o medo da policia, o medo do exército, medo do vizinho delator, medo da própria sombra!
            Pessoas “subversivas” eram vigiadas, reuniões reveladas, ações difamadas, estimulavam-se as delações e infiltrações em repartições, colégios, igrejas, comércios e nas casas. Quando as pesadas botas sentiram vontade de esmagar, triturar tudo por aqui, subitamente veio um amparo e uma solidariedade imensamente protetora das igrejas, do Brasil e do mundo.
           O Pe. Geraldinho foi detido por 11 dias no Recife, pois os militares queriam saber tudo sobre os focos de agitação e subversão em Crateús, comando pelo famoso “agitador comunista” Dom Antonio Batista Fragoso.  Depois daquele março de 64 o ambiente começou a ficar pesado, era tempo de meio silêncio, tempo de boca gelada e murmúrio, de palavras indiretas, de avisos nas esquinas. Tempo de cinco sentidos num só, pois o espião jantava conosco, como disse o poeta Ferreira Gullar em sua rota de fuga.
           Em Crateús, o professor Luiz Bezerra passa um telegrama aos Diários e Rádios Associados, avisando que o Vice-prefeito José Bezerra de Melo e alguns vereadores foram cassados, por participarem de movimentos subversivos. No ano seguinte também é cassado o mandato do prefeito Municipal Dr. Olavo de Araujo Cardoso.
          Um grupo de 16 pessoas, corajosos heróis crateuenses, manifestam-se publicamente contra o regime militar e são presos, entre eles o socialista Noberto Ferreira, o Sr. Ferreirinha, que em breve entraria em aflição pela vida do filho, o estudante de medicina João de Paula, que participaria do XXX Congresso da UNE em Ibiúna, SP. Quando a moçada ouviu aquele ratatatá ratatatá para todo lado, perceberam que o encontro havia chegado ao fim. Entre centenas e centenas de estudantes, com cartazes de Che Guevara e livros com o título “Guerra - Guerrilha – Chê”, a polícia notou logo a presença de José Dirceu.  João de Paula, o corajoso crateuense, logo teve que se evadir para o Chile do Marxista Salvador Allende que seria então derrubado pelo capacho do dedo sujo americano e um dos piores ditadores da humanidade, Augusto Pinochet. Ele exalava morte ao respirar, diziam. A fuga, foi digna dos estúdios cinematográficos de Hollywood, tramaram assim: a irmã de Ruth, a namorada do João, com os disfarces na bolsa a tiracolo entra na pensão que era espreitada por vivos olhos de lince. Não demora muito e saem. As sorridentes freiras abençoam a todos, por ali, enquanto se dirigem à porta. O chuveiro ligado afirmava que João de Paula ainda aguardava, tremendo e hesitante, num quanto de aluguel.  
            Em Crateús vivia-se sob o ferrete do medo, que deixava marcas doloridas como aquelas feitas em gados tangidos para o curral. A Rádio Educadora de Crateús tinha mais ouvidos nas paredes que os reais ouvintes espalhados pelo imenso sertão. O programa da Diocese que informava sobre a semana das catequeses, as atividades da Conferência nacional dos Bispos e leituras do Evangelho, era de responsabilidade da Professora Luzia Neide Menezes Teixeira e do Senhor Manoel Messias Coriolano, eles elaboravam os textos que seriam lidos pelo jovem Flávio Machado no programa A Voz da Paróquia. Antes, tinha que levar o script para uma censura previa, no 4º BEC.
            – Por que você escolheu essa notícia, professora? Era a pergunta de sempre dos sensores e um dia a indagação foi mais específica;
            – Por que você trabalha para esse Bispo Comunista, Professora? Ela sempre se saía bem, nas respostas.
           – Sou filha de uma viúva e preciso trabalhar!
           Um dia, chega um assustador aviso aos ouvido da viúva Dona Delite: – O Monsenhor Bonfim mandou dizer que a Luzia Neide vai ser presa. Se continuar como estar, ela vai ser torturada e a qualquer hora!
            Foi a gota d’água. Chama a filha e vai logo determinando, numa ordem dura: – Escute, minha filha, eu já aluguei uma casa na Rua Senador Alencar, em Fortaleza. Você vai trabalhar e estudar agora é por lá! E pronto!
            Se em Crateús a ditadura implicou com a professora, em Fortaleza o despotismo embaraçou-se mesmo foi com o Manoel Nene Martins Coriolano, seu esposo. Nene aprendera a arte da tipografia e os segredos da vida com o grande Professor Luiz Bezerra. Não foi difícil arranjar emprego em fortaleza. Desde a invenção da imprensa que a arte do tipografo é primordial ao mundo, mas na escura época de uma ditadura é um cidadão muito visado: Panfletos! 
           Bem que ele tentara entrar para o partidão, mas lhe explicaram qu não poderia ser aceito: – Seu Manoel, não podemos lhe admitir, o senhor acredita em Deus, gosta das músicas do Roberto Carlos e ainda torce pelo Botafogo! Logo você não tem credenciais!
           Ter alguns amigos do peito, esquerdistas de carteirinhas, em época de ditadura é um sério perigo!
           Quando a intimação da Polícia Federal chegou, tentaram explicar por que ele não poderia comparecer naquele horário, por motivo de trabalho. Pelo sorriso sarcástico no rosto do emissário, perceberam a seriedade da coisa:
           – Ah, senhora, ele vai sim... Não se preocupe, ele estará lá, com toda certeza!
           Enquanto Luzia Neide aguardava dentro do fusquinha, rezando e suando apreensivamente “ Sai ou não sai, Minha Nossa Senhora!” enquanto o Nene era esmiuçado, ao avesso, dentro do prédio da Federal.  Demorou uma eternidade, mas lá vem ele, pálido com uma broa, mas com um largo sorriso de felicidade no rosto.  Aprendera, com a esposa, a sair pela tangente nas respostas!
             Recentemente, só para me contradizer, pois achava a juventude de hoje totalmente alienada, sem saber o que é contestação, defesa de causa, ou voluntarismo e nem sequer imaginavam o que foi os horrores da ditadura, e fiquei surpreso ao ver um Levante Popular da Juventude, em apoio à comissão da verdade, os jovens picharam certas calçadas com os dizeres: Aqui mora um torturador!
            Faz-me recordar daquela madrugada boemia de um singelo sábado do ano de 1983, nas calçadas dos bares da Avenida José Bastos, em Fortaleza. Depois das aulas cansativas de sexta-feira é justo e meritório o alivio numa rodada de cachaça e cervejas. Num eclético grupo de universitários e professores, a conversa nunca é leviana. Andávamos com o jornalzinho do Pasquim e já se ouvia uns acordes de Diretas Já, pois a ditadura já afrouxava as rédeas.
            Um dos mestres pergunta se tínhamos assistido ao Canal Livre da TV Bandeirante e nos confirma que foi com Teotônio Vilela. Outro reclama que a inflação ultrapassara o patamar de 200%. Até nas brincadeiras havia cultura. A certa altura cada um tinha que dizer o nome de uma pessoa ilustre e uma coisa bem significativa de sua terra. Um fortalezense brincando, disse: – O bode Ioiô e a praia de Iracema! Risos e protestos! Ele corrige trocou o bode por Gustavo Barroso. Um sobralense afirmou: – Belchior e o Arco do Triunfo e não se contradisse, pois vivia cantarolando “Eu sou apenas um rapaz latino-americano...”
             Minha timidez já estava adormecida pela neblina do álcool e na minha vez detonei, alto e em bom tom, para que todos pudessem ouvir: – O Rio Poti de onde tirei o sangue que corre em minha veias e um guerreiro imortal chamado Dom Fragoso!
             A noite é uma criança e a madrugada é dos boêmios inveterados. Às três da manhã só restavam mesas vazias, garrafas consumidas, eu e o saudoso amigo Pedro Mota, o melhor professor de desenho técnico que já houve naquela redondeza.
            Sem pedir licença, um cidadão aproxima-se e senta-se na nossa mesa. Identifica-se como Polícia Federal, já mostrando um distintivo na carteira e uma pistola na mão! Pede que nos identifiquemos. Pedro mostra seu documento, ele ler e o devolve. Mostro a minha identidade, ele só olha para o fundo dos meus olhos e pressinto a frieza e uma raiva louca naquele olhar que rosna raivoso: – Eu sabia que você era da terra daquele comunista imundo! Só não lhe meto uma bala na testa, agora, porque ainda tem gente aqui na rua! Levou o documento aos dentes, rasgando-o como a um osso na boca de cão esfomeado. Joga-o ao chão, levantou-se e vai embora.
            Guardo esse documento, como um precioso troféu, não pelo sufoco daquele dia, mas como uma lembrança de um cidadão do bem que infundiu medo, desespero e raiva na mais vil das ditaduras!    

 

Raimundo Candido

Elias de França disse...
O seu troféu, Raimundo Cândido, reluz aos olhos de todos nós e clama que todas as histórias silenciadas pela brutalidade sejam agora contadas, pois " a verdade ainda que tardia". Se há hoje os que podem gritar indignação, porque houve os que não calaram quando a ordem era silêncio e medo. Que a história nunca esqueça os nomes daqueles que tiveram a coragem e a dignidade de enfrentar o peso dos tanques e os horrores das torturas, tendo muitos a própria vida sefada!

 

 



                                            TERNURA MALDITA
Assoviante. Dia e noite. Dora Mundo percorre a vida assoviando grande. Com simetria e harmonia.  Mesmo sabendo que amanhã será o dia da decisão.

Silas Falcão
Do livro O colecionador de dedos

terça-feira, 22 de janeiro de 2013


DONA GENA

Segurei em suas mãos
E, agora, andando a passos lentos,
Desacelerei meu coração
E valorizei aquele belo momento.

A minha avó completara noventa anos de idade;
Na missa, o Padre lhe prestou uma homenagem,
Todos lhe aplaudiram com felicidade,
Mas não sabiam contar a história desta longa viagem.

Primeira parada, em cima da Serra,
Na Arara dos Rodrigues, como era chamada,
O lugar que seus pais lhe receberam na Terra,
Como a décima primeira filha tão amada.

A família convivia com alegria e respeito,
Uma infância de brincadeiras; juventude de responsabilidade,
As chamas do saber já iluminavam seu peito,
Como uma ânsia de suprir sua curiosidade.

Logo, seu pai contratara um professor
Para lecionar aos filhos por sessenta dias,
Aquele curto tempo para ela teve o valor
De levar para posteridade sua latente sabedoria.

Queimando pestanas, à luz de lamparina,
Junto com as palavras já não queria dormir,
Encontrou, no aprendizado, a esperança da menina
Superar obstáculos e conseguir evoluir.

O tempo passara e os olhos castanhos da bela mulher
Era cortejado em toda a redondeza,
Mas ela sabia o que seu coração quer
E guardou para seu amor, toda sua beleza.

O encontro com o José de Melo Ribeiro
Em uma festa de agosto no Assis,
Mudara seu destino por inteiro,
Nascera dali uma união feliz.

O companheirismo de sessenta e um anos de casamento,
Uma vida de trabalho para criar os descendentes,
Sete filhos que guardam no pensamento
A honra de terem sido educados por um casal descente.

Àquelas lições do professor contratado
E a compreensão do seu companheiro, acredite!
Fizeram com que os sete filhos fossem matriculados
Na inesquecível escola da Dona Delite.

E, dali, os passos largos da educação
Impulsionaram esta família para o futuro profissional,
A atitude desta mulher de visão,
Faz com que os netos lhe agradeçam em especial.

Voltemos, ao casal, que era referência no distrito e na região,
Com portas abertas, a casa era dos amigos;
No comércio, o crédito para quem não tinha um tostão;
Na cozinha, um prato para matar o pior inimigo.

A fome que assombrava o nordestino;
Na casa Rodrigues Melo, conheceu a solidariedade,
Comida, no prato, não se deixa menino!
Tem outros irmãos nosso, esperando esta caridade.

Ainda recordo dos meus amigos do interior,
Sendo alimentados pela minha avó,
“Tigena”, como é bonita a prática do amor,
Pois a teoria não produz efeito só.

Mas naqueles tempos, a vida também era divertida
E, na bodega do Sr. “Zé Padre”, sempre à frente do balcão,
Tinha muita gente reunida
Na gargalhada, sem confusão.

A Vovó comandava a brincadeira
Sinuca, baralho e muita prosa engraçada,
Vinham pessoas da região inteira
E ficavam sentados até na calçada.

Fazia picolés de saco para os pequenos,
Ainda sinto o gosto do Q’Suco e da coalhada
E o vovô com seu olhar sereno,
Reprovando a turma da cerveja gelada.

Às quatro e meia, ainda no escurinho,
A erva doce exalava seu cheiro nunca esquecido,
Era Dona Eugênia, preparando com carinho,
O chá de despedida de seu marido.

Que partia para cidade de Crateús,
No seu ônibus, que interligava às difíceis estradas,
Naquelas casas, ainda não tinha chegado a luz
E os seus faróis iluminavam aquelas jornadas.

Há dois anos, na parada de uma estação,
Descera seu maior companheiro de viagem,
Mas permanecera em seu coração
O brilho que deixou em sua passagem.

Hoje, que o trem fez estada na casa dos filhos,
Vivencia o progresso que iniciou com sua lição;
Sente-se orgulhosa de nunca ter saído dos trilhos
E do sangue dos Rodrigues pulsar em seu coração.

Nascimentos, casamentos, formaturas, aprovações a comemorar
Em mais de trinta e um mil dias, ofertados pelo Senhor,
Honestidade, união, alegria a desfrutar,
Colheitas de uma plantação de amor.

(Na data de hoje, 22 de janeiro de 2013, a Vovó completou 91 anos de idade para alegria de toda a família. Felicidades e Muita Saúde!).

                                                                                            Silvia Melo.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Chuva


 




A chuva já vem!
Corre... recolhe
as redes e os lençóis
estendidos no varal!
 
A chuva já vem!
Depressa...agasalha
no alpendre a lenha,
o carvão e a flor de cal.

A chuva já vem!
Ligeiro... pega o pote
e põe debaixo
da fonte do beiral!

A chuva já vem!
Oh, garoto traquina,
já foi ao banho na bica!
Arreda... este sereno lhe faz mal!

 Raimundo Candido
Louvival disse...
 
Bonito ver o seu processo criativo, poeta. Como chuva que, de um fiapo dágua a escorrer no chão esturricado do sertão, transforma-se num mar revolto, pegando-nos por nossas memórias mais caras. Vi 3 versões desta chuva, e cada uma mais atraente que a outra, todas cada vez mais belas! Oxalá isto prenuncie um inverno farto e feliz. Precisamos.

José Alberto de Souza disse...

À beira mar, a gente esquece dos irmãos aí do sertão. Mas quando se está na cidade, reclamamos da nossa canícula e ai sim clamamos por esse aguaceiro benfazejo.
Que alegria maior pode existir para um moleque do que um banho de chuva?

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O CANETEIRO




           Quando mãos se aproximam, agilmente ela se desvia. Há décadas, a família tenta escrever com a caneta, mas ninguém consegue segurá-la. Dizem que é a mão invisível do velho caneteiro.

Silas Falcão

Do livro O colecionador de dedos.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O ladrão de poemas


Elias de França 21/12/2012

 Ao poeta Raimundo Cândido
Andava a matriarca inquieta de um lado a outro da casa a remoer transtornos. Até errara a conta das três ave-marias que sempre rezava ao almoço, entre dois pai-nossos e dois pelo-sinais. Enérgica em autoridade e mando sempre era, mas de último passara a ordenar com certa irritação.

Às filhas, nada parecia fora do lugar: as contas em dias, como sempre, a despeito das mais de três décadas de viuvez da mãe. O trabalho era árduo, mas amparava a todos. Das duas irmãs que distante deixavam saudades, boa causa remia a tolerância, vez que em curso de ascendente carreira profissional na Universidade. O irmão homem mais velho em brilhante atuação no direito

A preocupar só o desnorteamento do Dim...  Nada, porém, de agora. Bom e manso desde menino, nunca fora promessa de pompa ou sucesso. Acanhado demais para sobressalto ou fama. A matemática bastava bem a sua pouca fala. Raciocínio não houvesse, a rigidez das fórmulas numéricas o socorria diante de seus percalços. Os desencantos de anos vinha a expiar em bebedeira e boemia. Deixara até a família. Desgosto causava, sim, mas fazer o que? A ninguém ofendia, além de si. E o sofrimento que causava à mãe não era bastante para o recente cismar.

Até que num instante de sossego, chama as filhas, as quatro mais velhas, em volta do sofá da sala. Tira do bolso do vestido de inteiro luto um tufo de rabiscos em papel pautado. Picote de arame de caderno mal extraído... poesia de sublime sentir. Distribui alguns entre as quatro, deixa que vejam os escritos... Em baixa voz, pede que busquem descobrir de Dim donde e de quem anda a copiar aqueles versos. Passa a explicar seus motivos: entre todas as provações, obstinou-se em educar os filhos dentro da moral e bons costumes. Inconcebível, pois, roubar um grão que seja, quanto mais poemas, luz da ideia perfeita. Pouco fizera ou dissera das noitadas e farras do filho, mas aquilo não toleraria. Exigiria retratação, ainda que às custas de ter que dobrar um homem feito de barba no queixo.

Pasma diante do riso discreto das filhas, seguido de testemunhos tantos empenhados a Dim, com lágrimas nos olhos. Nada repreende, entretanto. Eram esfarrapadas desculpas, tão, que tomou por piedade para com o irmão caçula. No íntimo, as frases de confiança das filhas lhe traziam algum alivio às angústias. Embora, bem soubesse, ele não seria capaz de tanto, Deus tudo tem e pode dar. O que aos homens é caminhar nas trevas, ao criador pode ser a estrada da boa ventura. Seguiria, como sempre, em vigília até o tempo lhe mostrar as verdades.

E o tempo da matriarca foi tanto que mostrou ao mundo um ladrão de poemas fazer nome, assim, sempre de roubar essências: da sertaneja e sua pele de barro e cera; da lenha e o fogão em chamas solares; das bodegas e seus gomos gigantes; das memórias o doce mormaço...  Renascido pela palavra, em prosa e verso forjados de idos e escórias, seu dizer é capaz de embalar o balé dos anjos, fazer cantar o concreto e alegrar o ar inóspito de todo o velho e dormente viver.


sábado, 12 de janeiro de 2013

O Torpedo Lacuxia.

 
            O dia de domingo, sendo límpido, venerável e reverencial, está predisposto aos cultos, às celebrações que fortalecem o espírito. Mas, igualmente, é um dia mágico e devotado à arte do futebol como um banquete de noventa minutos sem deixar de ser religião, tornando-se uma questão de fé, flamejando em nosso espírito como uma bandeira poeticamente bíblica.
            Quando a multidão, absorta a um pontinho esférico esvoaçando no tapete verde de um estádio, se levanta e grita em uníssono o seu canto de esperança e guerra, em ato de vida e morte, obriga aos poetas a declararem que o domingueiro esporte bretão não se joga somente nos gramados, nas praias, nas várzeas ou nas ruas, se joga também na sacrossanta arena da aguerrida alma, por uma animosa sujeição que trazemos amarrada ao peito, desde a remota infância!
             Naquele domingo, em que o sol já amanhecera escaldando o tempo nas primeiras horas do dia, o Senhor Moacir Machado, treinador do Botafogo, uma equipe de talentosos garotos que prometiam ser o Dream Team  do futebol crateuense, mostrava-se apreensivo.  Estavam de saída para um jogo amistoso na vizinha cidade de Ararendá, mas um importante desfalque na lateral direita o afligia.  Moacir lembra que o goleiro do seu time lhe falara de um menino que batia um bolão na Rua Farias Brito, no campinho ao lado da cadeia pública.
             - Nicolau, vamos buscar o lateral que você me falou?
             - Vamos sim, treinador, sei onde ele mora!
             Deparam-se com o pai do menino, na porta da casa: - Seu Francisco, cadê o Lacuxia?
              - Sei não! Aquele menino só quer saber de bola! Provavelmente vocês o encontrarão jogando na beira do Rio.
              Dito e feito! Lá estava ele correndo atrás de uma quicante “Bola Pelé” no campinho improvisado, se divertindo numa “pelada”. Demoram-se um pouco, só observando como o talento que buscavam “manejava” aquele organismo semivivo chamado pelota. O convite, que fora aceito de imediato, não o surpreendeu, pois já era um espírito amadurecido para a pouca idade que tinha. Sim, uma alegria brotou no peito, visto que era o primeiro degrau para um grande sonho e sabia que fazer parte do quadro da estrela solitária crateuense era um grande privilégio.
             Todo time que joga em casa tem uma primazia, mas quando na equipe adversária sobram talentos, a vantagem do outro é como fogo de palha...  O jogo, em Ararendá, não foi fácil e já pertinho de terminar o segundo tempo, num angustiado aperto de 1 x 1, o time adversário comete uma falta, um pouco afastado da meia-lua. O Moacir ordena de longe “Deixem o Lacuxia bater!!!”. Todos, que estavam ao redor do campo de terra batida, ouviram uma pancada seca, como um coco caindo das alturas e se estalando no duro chão. O torpedo descreveu a precisão geométrica de uma parábola, raspando o ângulo de 900 da trave ararendaense, estufando a rede. A festa da vitória foi regada com muito aluá na praça da estação, em frente à casa do experiente técnico Moacir.
             Os holofotes só necessitam de um foco, e a luz daquele jogo acendeu as lâmpadas, ligadas em série, que abrilhantaram a trajetória desportista do João Lacuxia. O Futebol de salão lhe aprimorou as armas poderosas que já tinha: a habilidade, a explosão, a velocidade e a potência do chute que aplicava na pesada bola, em explosão tão violenta que a bila partia como um “pombo sem asas”, a mais de 100 Km/h e com 80 kg na pancada.
            Desde o Futebol de Salão na quadra do colégio Regina Pácis, cujo técnico era o Prof. Eurides, que partiu para jogar em quase todos os outros times: do União do Deromir ao Palmeiras do Dr. Almir, participando de todas as seleções crateuenses que se formaram na sua época.
        O palmeiras jogava com uma equipe de Independência, na quadra da cadeia pública, quando o juiz marca um pênalti a favor do verdinho. Lacuxia prepara-se para bater, mas antes avisa bem alto ao goleiro, como sempre avisou, acho que se lembrando do irmão, que também era guardião: - Saí do gol!!!  O incauto atleta afoitou-se em encaixar a bola, mas o torpedo o jogou para trás, como um coice de uma mula. Alguém da arquibancada gritou, ao perceber que arqueiro não se levantava: - Morreu! Foi quando o Dr. Almir e o Dr. Camurça correram para socorrer o coitado. Foi direto para o hospital e para a mesa de cirurgia.
         O futebol proporciona tantos os bons momentos como àqueles instantes em que se arrisca a vida. Um poeta já disse uma vez que a morte é uma curva na estrada e isso costuma ocorrer, literalmente. A equipe de Futebol de Salão do Regina Pácis ganhara um jogo na cidade de Nova Russas, deram um show no placar de 5 a 3. De volta, o motorista Demontier que pilotava uma velha pick-up, demonstrava pressa de chegar e se esquecera da perigosa curva fechada que alguém avisara na ida. Em um átimo de segundo uma perversa tangente puxou o carro para fora da estrada, que tombou diversas vezes. Desnorteados, pelas pancadas recebidas, o Lacuxia e o Paulo Estefani conseguem sair do carro e arrastam os colegas que estavam machucados e sangrando para beira da pista. Do Luciano Ciferal, eles sabiam que estava vivo, o Fenelon se desesperava com o rosto cheio de fragmentos de vidro, mas o craque Nenen e o motorista Demontier não davam sinal de respiração. Saem a ermo, pela estrada poeirenta e só depois de correm uns 4 km conseguem socorro. O sete de setembro em Crateús, daquele ano, foi de uma total comoção pelas vítimas.
              Com insistência tenho ouvido de meus concidadãos que só tivemos futebol de qualidade na época em que os times do São Vicente e do Petróleo se intercalavam no pódio de campeão, promovendo belíssimas contendas, jogos históricas nos gramados do Jumelão.
             Para alegria dos torcedores do São Vicente do Zé Bezerra — a irrequieta Graça Nascimento, a jovial Silvia Régia e o impaciente Ticuá  querendo entrar em campo para jogar —  enquanto tinham o Lacuxia, eram sempre campeões. Mas o Petróleo do Marcelo, que era o time das elites e do dinheiro, arrastou a peso de ouro o João Lacuxia para os seus quadros. No primeiro confronto entre os rivais, o jogo empatado e no finalzinho da partida, marcam falta para o Petróleo... Os torcedores vicentinos, com o coração na mão imploram clemência, mas o torpedo não teve piedade, riscou o ar como um foguete e cumpriu sua missão, a de profissional, que João sempre soube ser, como cidadão integro.
            Naquelas saudosas e disputadas pelejas podíamos ver jogando os craques: Zé Maria, Nicolau, Eliezer, Gilberto, Chico Calunga, Almir, Marconi, Ary, Coscata, Pirrita, Henrique, Paiva, Zé Ivan... Era arte pura em futebol harmonioso regido por um grande maestro: o João Lacuxia, que recebeu muitos convites para jogar em outras equipes, como Guarani de Sobral, o Fortaleza, o Ceará e teve um convite para fazer um teste no time da vila Belmiro, o Santos de Pelé, mas resolveu ficar na sua terrinha natal, engrandecendo nosso esporte, como  um dedicado e eficiente professor!
            A seleção crateuense, num amistoso bem disputado, jogava com o Ceará Sporting Clube, o querido Vovô.  O Jogo também estava 1 x 1 e o Lacuxia, inexplicavelmente, sentado no banco. O técnico Zé Bezerra o convoca a entrar, atendendo ao pedido dos torcedores.  A zaga do Ceará atrasa uma bola displicentemente para o goleiro Lulinha que não conhecia a explosão do torpedo Lacuxia.  Ele se antecipa chutando a bola, a mão e a intenção de defesa do velho arqueiro, no lance que lembrou o espetáculo de um dos maiores artilheiros do passado: “E novamente ele chegou com inspiração, com muito amor, com emoção, com explosão e goool!” Foi tanta a emoção que seu Adalberto jogou a sua bengala dentro do campo!
            Hoje, Lacuxia ainda tem disposição de sobra, tem coragem para emprestar a muitos dos jovens que ele ensina e uma energia de fazer inveja quando o vemos passar correndo, se preparando para mais um grande jogo da sua vida.
           Um dia, um duende mágico do futebol crateuense chamado Manurim lhe deu de presente o primeiro par de chuteiras, e só se via o menino João treinando chutes, sozinho, no estádio Juvenal Melo. E se você precisar falar com o Lacuxia e não o encontrar na Rua Farias Brito, ou nos colégios ensinando futebol e cidadania aos jovens alunos, pode se dirigir ao Jumelão, que ele estará lá, todas as terças-feiras, com as velhas chuteiras mágicas, treinando  um potente torpedo!
Raimundo Cândido    

José Alberto de Souza disse...    
        Ah, mas que coisa fantástica, até parece que o espírito do saudoso Nelson Rodrigues andou baixando nesse notável cronista crateúsense!                                                         


Morbus, o grotesco


Alguma dúvida de que ele é um sujeito normal, ancorado firmemente em seu cotidiano monótono, abraçado à sua monótona mulher com a resignação de um Sísifo moderno? Alguma dúvida de que ele ri e bebe e fuma igual a todos os outros, que também lhe são iguais, e ama e faz sexo como se fosse ele um ser especial e superior, especialmente melhor do que seu próximo? Alguma dúvida de que ele sonha e faz planos, e os acumula todos na pasta do "amanhã", e sente-se feliz por não ser o mais infeliz de todos? E enche o peito a cada manhã e se magnífica com a vida! 

Ele paga suas contas. Ele ajuda velhinhas a atravessarem a rua. Ele mastiga de boca fechada. Ele em nada difere do que há de mais digno, puro e sincero em sua raça. Ele inclusive se vangloria de ser humilde. 

Principalmente, ele acha que gosto é um negócio muito particular. Cada um tem o seu. É uma coisa que não se pega, não se aprende, está a léguas de ser "um fenômeno social de primeira categoria", como dizia o centenário Gadamer. Então, esquecido de seu próprio argumento, ele esmera-se em esfregar seu gosto na vida dos outros, dizendo mesmo que o seu é melhor e superior. Talvez, quem sabe – pensa ele magnanimamente –, deixando o seu gosto à mostra, expondo-o aos quatro ventos, não influencie aos "sem gosto". Ele se acha tão bom! 

Daí, tome paredão! Haja reality show! Valha-me deus que é religião!... E todos absolutamente certos, é claro. Na verdade, ele não ver a hora de salvar o mundo e as pessoas do mundo dividindo com todos a sua sabedoria. 

Então, ele compra uma câmera fotográfica e arregala os olhos, doido por uma desgraçazinha básica, para postar na sua rede social. Depois, senta em frente ao monitor e espera ansioso e ofegante a admiração geral: oh! 

No escuro do seu quarto, quando chega o momento de contar os grãos bons e ruins de sua vida medíocre, ele calcula todos os dias quantos dias lhe restam no mundo, e secretamente torce para não ir sozinho, e sonha em ser o último a partir. Ou melhor, nunca partir. E, sem que ninguém se der conta disso, ele encara você toda manhã... no espelho. 

Ainda bem que tem futebol. 

Lourival Veras

Raimundo  Cândido disse...
Velho amigo Lourival, como o meu espelho caiu e  quebrou, vou me contentando com o futebol e algodão doce mas só quando me enfio numa carapuça que algum poeta astuto deixou nas entrelinha da vida...

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Caminhos do Sol


A exposição fotográfica Caminhos do Sol objetiva apresentar cenários, cenas e vivências no semiárido cearense, presentes, em específico, em alguns territórios da zona rural dos Sertões de Crateús, Ceará.

A referida exposição é parte integrante do projeto de mesmo nome, aprovado pela Funarte, órgão vinculado ao Ministério da Cultura do Governo Federal do Brasil, dentro do programa Bolsa de criação literária, 2010. Sendo objeto primordial da investida, a confecção de um livro de contos ambientados em parte do polígono das Secas.

O projeto surgiu do desejo de tentar compreender de maneira crítica o modo de viver, representações, signos e significados das ações e conflitos ligados ao cotidiano do sertanejo, em seu convívio e relações consigo mesmo, seus semelhantes e não semelhantes, bem como com a natureza e o meio ambiente. 

A exposição é do professor, escritor e fotógrafo Luciano Bonfim. As fotos postadas fazem parte das 30 que o público poderá apreciar durante a exposição.

Onde? Espaço Nordeste - Tamboril, Ceará
Quando? 11 de janeiro a 11 de março de 2013



segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O ano em que parei de fumar


“Para os peixinhos do aquário, quem troca a água é Deus.”
Mario Quintana 

A graça de ver a fumaça esvair-se ao meu sopro, escorrendo líquida pelos meus momentos bons e outros nem tanto, perdera o gosto. Não lembro a hora, lembro apenas que esqueci o maço de cigarros ao lado do cinzeiro quase repleto de baganas e cinzas, que o ventilador se encarregava de espalhar sobre a mesa, os livros, meu quarto. Também dera! – a vida me escapava gota a gota, vermelha, empanturrando-me, roubando-me o fôlego e a consciência. Eu sumia em carne e energia, há anos. Então, de repente, minha chama da vida tremeluzia seu final. Cinquenta e três anos depois, eu apagava, finalmente. 

Então acorreram amigos, amores, parentes, e apelaram todos: viva!, e eu desobedeci. Doutores tomaram meu pulso, auscultaram meu peito, furaram-me, encheram-me de pilulazinhas de vida e me ordenaram: viva!, e eu desobedeci. Seres assépticos, claros, transparentes ligaram-me a tubos, despejaram litros e litros de sangue nas minhas desaparecidas veias, empurraram vento novo em minhas ventas e disseram: viva!, e eu desobedeci. E apenas esquecia de me despedir. 

Eita, nunca mais teatro! Nunca mais saudade! Nunca outra risada! O mesmo amor nunca mais! As tardes quedariam cinzentas, as ruas, vazias. E tantos livros pra ler! Tantos cheiros de mato! Tanta conversa não dita! E meu gato, quem o amaria? Qual mundo novo eu não visitaria? Alguém ainda diria meu nome pensando em mim?... 

Quando segunda-feira chegou e eu me esqueci de morrer, foi assim como a descoberta de outra primavera. Como se Thiago de Mello tivesse soprado em meus pulmões e anunciado, diretamente pra mim: "este homem renascido é um homem novo". Não resisti à ternura que me ofertaram e sobrevivi. Era o mínimo que eu podia fazer. 

Outro cigarro? Acho que agora não, obrigado. 

Lourival Veras 
___________________
Especialmente para Paulo, o Nazareno, Nenzé, Carlos Felipe, José Wellington, Emiliano, Elanildo, Valneide, Gilvan, Célia, Raimundo, Ricardo Júnior, Neto – e todos esses que cuidaram de mim. Para Cleber Bonfim, Mauro Soares, Lourenço Torres, Hosana, Neto Gonçalves, Lucinha, Raimundo Candido, Edvaldo Barbosa, Elias de França, Adriana Calaça, Edilson Macedo, Edmilson Providência, Carlos Henrique, Raul, Edilson Pinto, Paulo Geovani, Rogério, Socorro Pires, Ailton – e todos esses que olharam por mim. Para Teka, Vania, Celina, Conceição, Veras, Socorro, Nego, Railce, Indinha, Mateus – e todos esses que rezaram por mim. E para Karla, é claro, essa que atrapalhou o trabalho da morte que me vigiava agourenta ao pé da cama, e ainda por cima me chama de meu amor. Obrigado por terem gritado: viva! Eu escutei.

Raimundo Cândido disse:

Poeta Lourival, Veras poeta! Que não seja a nossa audição a antena da alma! Você não nos desobedecia, pois o Lourival Veras está acima de um velho corpo cinquentão e o clamor  pela vida lhe chegava pela antena mais pura da raça, que é quando ouvimos pela LUZ e não pelo som.  O meu amigo Lourival é um poeta de luz, e ainda tem muito que nos iluminar!

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012


                            ANTES DO OUTRO SOL NASCER

“Destino não é uma questão de sorte, mas uma questão de escolha; não é uma coisa que se espera, mas que se busca”.
                                                                                (William Jennings Bryan)

2012 se despede com todas as memórias das nossas ações. Com todo o conteúdo dos nossos pensamentos. 2012 acena adeus. Feliz adeus. Ano excelente porque nossas atitudes foram excelentes. Não há ano ruim, mas atitudes ruins. O tempo é tão inocente como uma criança recém-nascida. Assim como uma criança, o tempo será o que nos faremos dele. Não existe felicidade fora de nós. Não existe sucesso fora dos nossos pensamentos. Não existem conquistas sem ações. Nada acontece de fora para dentro. A vida é o que somos internamente. Espiritualmente. Sempre seremos a representação dos nossos pensamentos. Final de ano, os pedidos desbotados se repetem: “quero mais paz, prosperidade, felicidade, amor, união”. QUERO. E esta comunicação na primeira pessoa não realiza nada por desconhecer que a humanidade resulta das suas ações diárias.
Em 2013 não esperaremos acontecer. Faremos. Em parceria com nossos semelhantes. Com Deus. Nada será impossível se a ação humana for constante no foco dos nossos objetivos. Dos nossos sonhos. Nada resistirá ao pensamento constante de VENCER. Nada. Nem as barreiras mais montanhosas. Nada é impossível para o ser humano. Nada. Se agirmos em comunhão com os nossos objetivos. Com Deus. Com o caráter. Com a dignidade. Com o respeito.

Feliz 2013 com muita literatura e livros.