Na América o medo inibe voos e susta e mata
- Já é de penas e escamas os olhos da gélida estátua que vigia Manhattan.
Labaredas vermelhas de um titânico dragão localizado na Ásia sorve o ar e oxigena
o que somente existe cifrado: no câmbio o âmbito do mundo não vale o sopro de um esfolado.
E não tendo sido escrito o poema proibido de ser dito se recita silêncio.
Lio-o abertamente na mente daqueles que, feito eu, querem ir e vir e
respirar, sem grades, o mundo.
Despossuídos de liberdade são liberados a proverem-se de mercado e trabalho
se de inanição morrem as ilhidiotologias que previram animalizar humanos
servando com gente populações de cadáveres.
O mundo transita.
Não sou indício de nada se indico por satélite o oceao Índico
ou à distância identifico sentimentos que aproxima
amor e ódio e ânsias de morte e de matar: tudo na gente rima.
Gramáticos nem bem a revisam a língua cobra trocar
a pele da escrita ao soar das mutações: quando ao ser fala, dita.
Milhões de faróis vagam nas ruas varando rumos aos seres sem luz
- Literatura não é luz, mesmo se luz do que somente se fita na escuridão:
A luz dissolve o ser e o devolve ao cerne, onde, falho, vejo-me pleno.
Um homem sozinho estarrece toda a civilização
exploda, cante ou nos force a dançar à alucinação de se ter por estrela - e pop.
Estelar, um poltro selvagem na Mongólia acaba de sumir
catalogado e devidamente arquivado em bytes.
Algo fez sumir minha sombra enquanto eu encandecia
- O contrito e o irrestrito não se cabe escrito.
O eu não é lírico, megalomaníaco quer-se épico e acaba por ser,
se insolente, feito eu, meramente poético e, se solene, cerimonialmente patético:
limado, estudado, rimado, classificável, concretizado - ou métrico.
Camaleão se confunde não altera - integra-se à miragem: interage.
Eco não mia, miam milhões de gatunos e nem são gatos
os ratos de Paços corroem maços de papel e moeda e a massa moral.
O Phallos venerado nas antigas civilizações, em bytes escandaliza
mas não é mais porno do que outros elementos sagrados que também se comercializa.
A burca desnuda o regime que se ocultA lá de quatro
em Teerã de bunda de fora oram Aiatolás.
O que se torna alegoria de um tempo transcende.
Transpareço por onitorrinco se, brasil, transpiro o continente nordestino.
Na Austrália me estranham por marsupial americano, lá sou um gambá.
No Pantanal o poeta João de Barros fila a língua
untada de matas bichos insetos e se se farta de etimologia e água
cria sapos gramáticos que, enfáticos, saltam classes e originam palavras por girinos e grilos.
No matagal da língua a vida está sempre se a.bolindo.
Se engole o que a devora devolve ao agora o que o ser siga engolindo.
A raquítica criança hatiana que me aparece sorrindo
premiou o fotográfo e a galeria numa expor em Paris.
Prêmio de crítica e público - gente sensível à arte fácil se humaniza
se a vida se esgarça e radicaliza.
A realidade não rivaliza, ridiculariza.
Não há poesia, na miséria há a frágil e brutal humanidade
crua e brutalmente exposta - e a gente gosta
e expeciona o ambiente e se pressente a presa ao prêmio se abandona.
Isso não é um poema, galeria de cada imagem que se desdobra em infinitos links
e a minha revelia aleatórias alegorias camuflam o que confabulam.
Um nativo da Sibéria se veste de pele felpuda e branca contra a neve
para que não falte foca ao abate em Quebec e pelos aos animais das passarelas.
Etnográfos registram populações indiginas que não existem indiginas
- O humano não cabe senão humano mesmo se humano não se sabe.
Há ursos, não há abutres polares nem no mundo de Alice
mas ante certos homens um arrepio me alerta sobre carniceiros frios.
Um nome proferido em todos os idiomas busca um único ser a ser banido.
Suspendo este escrito que o mundo se precipita ainda mais infinito ao esgarçar-se grito.
Cesso o escrito, não de me abandonar ao que fito.
Grito, precipito-me ao infinito.