sábado, 25 de junho de 2011

O amigo dos anjos

Foto: Evilázio Ferreira

"Apago o incêndio do olho
com um simples gesto da mão.

Ando com minha bengala:
a perna esquerda mecânica.

Sou o fantasma de minha rua.
O aleijado mais trágico do meu país.

Ninguém me ama
mas sou amigo do Anjo.

Não negocio a paz do morto
nem o silêncio do meio-dia.

Caminho à sombra de Deus.
O sol me ilumina.

Durmo todo o inverno, à beira dos rios.
Acordo no estio com o canto das cigarras.”

(J.A.P)

Ele, que nunca foi íntegro nem inviolável (a provar isso suas mil e duas contradições, seu corpo magro e vulnerável, que sofreu horrores até tombar triste e bestamente no asfalto ainda molhado das últimas chuvas de julho de 2008), nunca pensou em reconhecimento póstumo, dizia a qualquer um que a cota dele queria em vida.

Com sua costumeira lucidez sabia, mais que todos, que morrendo o corpo dificilmente sobreviveria por muito tempo a obra, mesmo a sua, que também sabia mais que outros de seu perene valor.

Mas desconfiava de nossa memória urgente, curta.

Dia três de julho próximo completaremos três anos sem seu corpo magro, sem seu riso simples, sincero, escandaloso e triste.

Mesmo sabendo que sua sombra incorpórea (e sem faltar um só de seus gestos físicos) continua transitando pelas ruas desertas do Benfica.

Continua todo domingo, impreterivelmente, indo à missa na igreja de São Benedito, acompanhado de seus queridos Antonin, Jamaica e Alessandra.

Ele continuará sendo o velho fantasma de preto escanchado no arame farpado dos quintais de nosso conformismo. Misteriosamente colhendo o silêncio com suas mãos invisíveis e tecendo uma mortalha com o nó dos dedos para vestir o próprio corpo magro.

Mesmo sendo hoje apenas um retrato destituído de cor e dependurado nas paredes da velha casinha amarela da Vila Cordeiro, o sabemos vivo, vestido e nu, louco e poeta. Acima de tudo um poeta, lúcido e louco, refletido nas mil luas, nos abismos bem fundos dos poços. Continuará como aqueles místicos intocáveis e impossíveis, que viveram sem jamais se conhecerem.

Por isso santos.

E que jamais conhecerão a morte.

*   Singela homenagem aos três anos de ausência física de José Alcides Pinto, usando frases de seu poema “Eu”.

Pedro Salgueiro
Colunista O Povo

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A Orquestra Morais Rolim

No transcorrer do tempo, os fatos marcantes acontecem deixando lembranças imorredouras nas mentes de muitos que presenciaram ou participaram de tais acontecimentos que a cada dia se transformam em recordação e saudade.

Crateuenses que viveram em décadas passadas não desconhecem a existência do Instituto Santa Inês, escola primária particular reconhecidamente como a melhor de Crateús, no final da década de 1940 ao limiar da de 1950.

Fundado pela professora Francisca de Araújo Rosa (Madrinha Francisca), que tinha em mente para os seus alunos, a construção de um futuro promissor, ainda distante, com base nos moldes da boa educação. Muitas práticas educativas adotadas por ela em sua escola, são válidas até hoje.

O Instituto Santa Inês comemorava todas as datas importantes do calendário nacional. Nas comemorações, além da participação dos alunos, tinha presença constante a “Orquestra Morais Rolim”, pequeno conjunto musical formado por alunos do Instituto. Madrinha Francisca à época, se adiantava no tempo, colocando a música como importante ferramenta para a educação.

A Orquestra Morais Rolim era integrada por Juraci Lopes, sanfoneiro que mais tarde foi substituído por Jeová; por Edson Martins (cavaquinho), Edmilson Barbosa (violão), Melinho (cuíca), Cirineu Lima (pandeiro), além de  Raimundinha Andrade, Carlos Dirceu e pelos irmãos Vânia e Erisvaldo Martins, que tocavam outros instrumentos. Eram todos alunos do Instituto.  A “Orquestra Morais Rolim” marcava presença nos mais diversos eventos: em sessões solenes, desfiles cívicos, aniversários e, principalmente nos inesquecíveis piqueniques realizados em fazendas próximas a Crateús, em comemoração a diversas datas.

A Orquestra tinha o seu hino, cuja letra era da autoria da professora Leonor Rosa, uma paródia sobre a letra da música “Tem gato na tuba”, de João de Barro, adaptada pelas professoras Rosa Virginia, Natália e Terezinha Albuquerque. A melodia do hino continua até hoje na cabeça daqueles que viveram aquela época de ouro. Integrada por alunos do curso primário, o conjunto musical tinha um diversificado repertório, executado com ritmo, cadência e harmonia. Suas apresentações se tornaram famosas pela característica musical executada no início e término de cada evento. A letra do hino da orquestra assim iniciava: Todos os dias, com alegria/ cantando sempre assim/ com mui respeito e entusiasmo/ na Orquestra Morais Rolim. Bis. Tum, Tum, Tum, Tum Tum Tum, Tum, Tum (bis) É Orquestra Morais Rolim.  Também executava o Hino do Instituto que apresentava a seguinte letra: Do Instituto Santa Inês os estudantes/ São crianças esforçadas a florir/sobraçando felizes muitos livros/aguardando o futuro a sorrir. CORO - O Instituto é a luz farolizante/onde haurimos prazenteiros à instrução/pelo bom Deus, pela virtude, sempre avante/entregando ao Brasil o coração. Na senda do dever é livro aberto/onde lemos os princípios da ciência/divisando o progresso bem de perto/venceremos na luta em diligência. Nosso lema é prenúncio auspicioso/do esforço, da instrução e do saber/ nosso desejo também é grandioso/é crescer é subir e florescer.

Morais Rolim foi um crateuense de presença constante na vida da sua cidade. Foi coletor federal, desportista e amante da música. Era flautista dos melhores que a cidade conheceu no seu tempo. Contemporâneo musical de Felipe Morais, José Furtado, José Lopes, Osterne Santiago, Murilo Chaves e José Martins, entre outros. Solícito, não esperava ser chamado para algum trabalho e com sua presença e atuação voluntária ajudou nos labores sociais da cidade. Faleceu em São Paulo no dia 12 de fevereiro de 1984, onde se encontrava em tratamento de saúde, sendo sepultado em Fortaleza, onde residia há anos.

Em sua homenagem a Câmara Municipal de Crateús nomeou “Morais Rolim” a Rua lateral ao Hospital de Referência São Lucas, seguindo em direção ao nascente, cruzando com as Ruas Manoel Idelfonso e Maximiano Barreto, até encerrar na Rua Juvenal Galeno.

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Dedico esta matéria à Maria da Glória Monteiro Ferreira Bonfim, que estudou no Instituto Santa Inês e à professora Natália Albuquerque, que colaboraram com o feitio da mesma.

Flávio Machado
Cronista


Raimundo Candido disse...

Flávio Machado, guardião do baú de nossa memória, sentinela de nosso passado que é o presente que sobrevive a lembrança humana. Vejo-o sempre no zelo e no cuidado de preservar, de valorizar o que se findou, como bom cronista que és, meus Parabéns!

Raimundo Candido
Quinta-feira, 23 Junho, 2011


Silas Falcão disse...

Flávio Machado, parabéns pela crônica. Lembrei-me da Madrinha Francisca expandindo sua alegria pelos salões do Caça e Pesca. Ela gostava muito de dançar.

Abraços.
Silas Falcão
Sexta-feira, 24 Junho, 2011

quarta-feira, 22 de junho de 2011

ALC realiza excursão de pesquisa histórico-antropológica

  Está marcada viagem para o Estado do Piauí

A Academia de Letras de Crateús - ALC em parceria com a Secretaria de Educação de Crateús partirá nesta terça-feira rumo à capital piauiense, com o objetivo de pesquisar antigos registros em busca de novas descobertas para a construção do livro o centenário de Crateús. No roteiro, outras duas cidades deverão ser visitadas: Castelo e Oeiras, esta ultima a antiga capital daquele Estado.


A ALC tem 12 (doze) poltronas garantidas, aqueles que tiverem interesse e disponibilidade arrumem as malas, os gravadores, as câmeras e vamos em busca de nossas raizes!



Partida: 28 de junho de 2011

Horário: 05:00h da manhã

Local: Sede da ALC – Rua do Instituto Santa Inês, 231 – Centro
Os interessados deverão confirmar suas presenças na viagem o quanto antes.





“A história é êmula do tempo, repositório dos fatos, testemunha do passado, exemplo do presente, advertência do futuro.”

Miguel de Cervantes

terça-feira, 21 de junho de 2011

                                                                Um Tributo Matemático
                                                                                         (A Rodrigues Neto, um avatar)
                O caminho começou a ser traçado há cinco mil anos e já era o caminho de amanhã.  Ainda auscultamos aqueles primeiros passos inseguros e receosos que alguém ainda persegue e repete sucessivamente nos dias de hoje. Mas, na realidade, tudo que havia até então denotava este caminho, como uma placa sinalizando: É por aqui, sigam-me!
                E foi extraordinário! E está sendo admirável esta história que simples palavras articuladas imperfeitamente e com hesitação não conseguem contar minuciosamente em toda sua magnânima grandeza. É preciso que se ouça a amplidão de um silêncio incomensurável para suscitar as partículas que formaram seu genoma e que são, na realidade, partes de um bem maior, saídas daquele momento inicial, onde tudo se compôs e se aperfeiçoou, nas mãos de Deus. Ao escrever seu livro do universo, único best-seller escrito com divino papel luzidio, Ele gravou em letras garrafais assim: Tenho em mim todos os sonhos do mundo que se realizarão por obra das entidades simbólicas e numênicas e que levam meu anseio e o desassossego de toda realização preso numa eternidade.
No cerne de tudo que é grandioso há segredos, há mistérios que a humanidade atenta incansavelmente em decifrar. Mesmo que vá às profundezas dos abismos, que se desfolhem todas as florestas, que se saboreie a cintilação dos  raios , se perscrutem os rimbobados dos trovões, ainda assim, se não for um enigmático Avatar , nada decifrará. Mas se o espírito milenar de um anacoreta te for alicerçando a alma, alargando teu espírito, e se implorares com voz mansa em súplicas mil, em fatigantes rogos, aí sim, o segredo se revelará.
Foi assim no começo, será assim até o fim. Desde quando o profeta de Sámos, anunciado por Pítias, conhecido como o velho Pitágoras desvelou o primitivo discernimento e proferiu que todas as coisas são números e o número é a lei do universo que uma legião de seguidores perscruta incansavelmente essas pisadas, passo a passo, na estrada pedregosa de minas. O soberano Euclides afirmou, lá em Alexandria, que a trilha da matemática não era a mesma da realeza.  Arquimedes, o dá eureka, elevou-se com seus belos escritos geométricos.  Apolônio assombrou a escola de Atenas com suas cônicas. Diofanto veio fundando uma nova vereda pela álgebra e pelos cálculos simbólicos. Hipátia , a mais ilustre das sábias anônimas que se tem notícia, evidenciou o mundo grego, completando esta relação de incalculável valor.
Por mais que processe essa enumeração de seres extraordinários, duendes, magos, profetas versados em números feitos os poetas, que aqui acolá vagueiam por entre nós, no intuito de decifrar os mistérios do mundo, a lista nunca dará quorum. Sua incompletude se fará em virtude de um sem fim de mistérios, um infinito contido no infinito. E se paga um preço por ser aclamado no palco da genialidade, um sofrido tormento se apodera dos momentos que não se usam para a busca, como se decifrar o mistério fosse a única salvação.
                Um avatar vagueia entre nós, à sombras de seus sólidos geometricamente platônicos de faces vazadas, como o olho do infinito nos ligando a uma antiga Atenas. Um mago perambula entre nós, com seu raríssimo laboratório de experimentos matemáticos que asperge os teorema feito poemas, comprovado o que disse Waierstrass, um professor de matemática da Universidade de Berlim: Um matemático que não é também um pouco poeta nunca será um matemático completo! Seja bem vindo, Netão! Vamos beber água do rio Poti e se inspirar, que aqui é nosso chão!

Raimundo Candido

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Registros



Teu cheiro
vem nos meus cabelos
Teu gosto
na minha boca
Teu sorriso
nos meus olhos
Tua voz
nos meus ouvidos
No meu corpo
registros.

Karla Gomes

Raimundo Candido disse...


Aleluia! Congratulemo-nos! Habemus mais uma poetisa na nossa Academia e daquelas que traz o sopro das sibilas, que outorga asas e sentimentos nas palavras!

Parabéns a ALC!
Raimundo Candido
Segunda-feira, 20 Junho, 2011

sexta-feira, 17 de junho de 2011

MESTRE LUCAS EVANGELISTA LANÇA LIVRO-CORDEL PREMIADO

A Academia de Letras de Crateús e o Ponto de Cultura Quintal com Arte, do Sindicato dos Professores Municipais de Crateús, têm o prazer de convidá-lo para o lançamento do livro O Cordel e o Professor, do Mestre da Cultura Cearense Lucas Evangelista, ganhador do Prêmio Literário para Autor Cearense da Secult-Ce. Na ocasião, haverá também um desafio de viola entre Bento Raimundo e Chico Chagas.






Hora: 20:00h

Dia: 17 de junho de 2011

Local: Ponto de Cultura Quintal com Arte (Sindicato dos Professores)

Endereço: Rua Auton Aragão, 552, bairro São Vicente

terça-feira, 14 de junho de 2011

DOIS ANOS DE ACADEMIA

Uma biblioteca, uma residência e um jardim. Pela tradição, o jardim teria pertencido a Academus - herói ateniense da guerra de Tróia (século XII a.C.), e por isso o espaço era chamado de academia.

Nessa escola, localizada nas proximidades de Atenas, na Grécia, o filósofo Platão fundou, ao redor do ano 387 a. C., a primeira Academia. Nessa ambiência filosófico-cultural, altar de louvor às musas, onde se ministrava um ensino informal calcado em diálogos entre os mestres e os discípulos, o filósofo pretendia compilar contribuições de diversos campos do saber como a filosofia, a matemática, a música, a astronomia e a legislação. Seus jovens seguidores dariam continuidade a este trabalho que viria a se constituir num dos capítulos importantes da história do saber ocidental.

E as Academias, como flores de jitiranas sob o sol de maio, desabrocharam sem pedir permissão. Na formosa e elegante França um cardeal de nome Richelieu levou à prancheta, em 1635, o desenho de um grêmio literário disposto em quarenta cadeiras com a principal finalidade de tornar a língua francesa “pura, eloqüente, e capaz de tratar das artes e ciências”. Esse modelo serviu de fonte inspiradora para as Academias Brasileiras.

Em nosso torrão natal, esse estalo para constituirmos nossa Arcádia me veio em 2007. Nesta Gazeta escrevi uma crônica em que lancei o desafio: ‘Nossa terra, sacudida por gigantescas adversidades, estonteada por tantas frustrações políticas, castigada por intempéries, na contramão das opressões econômicas, à margem do fulgor capitalista também assiste florescer talentos de toda sorte, humildes e valorosos atletas da criatividade, que correm as pistas olímpicas das artes com as tochas da inteligência e do saber. Por isso, fundemos a Academia. Juntemos, numa mesma Catedral de Cultura, os escritores de todos os sons, os poetas de todos os sonhos, os que batizam os seres e que nomeiam todas as coisas’.

Conversei inicialmente com o Dideus Sales, Lourival Veras, Edílson Macedo e Elias de França. Fizemos a primeira reunião. Outros nomes foram listados. E a semente germinou. Em 13 de junho de 2009, nas dependências do Teatro Rosa Moraes, foi formalmente instalada. Para presidi-la escolhemos consensualmente Elias de França. No seu primeiro biênio, praticamente o piano da entidade foi carregado por dois casais: Elias e Adriana, Lourival e Karla. No entanto, o resultado é extremamente alentador: a Academia é uma realidade viva e pulsante na cidade. Todos ressaltam sua relevância na militância cultural da urbe.

A página na internet (www.academiadeletrasdecrateus.blogspot.com) é constantemente atualizada pelos acadêmicos (os mais ativos são Ísis Celiane e Raimundo Cândido) e as visitas do público são freqüentes. Mais de dez obras já foram publicadas. Alguns dos nossos integrantes foram premiados em certames estaduais e até nacionais (destaque-se Elias de França, Lourival Veras, Lucas Evangelista e Raimundo Cândido). A participação nos mais diversos eventos culturais é outro diferencial.

É óbvio que nem tudo são flores. Algumas inquietações foram externadas na última avaliação, como a ausência de maior sentimento gregário e a concentração de trabalho em poucos ombros. Ponderei que essa realidade é comum a outras agremiações congêneres. E parece que o dado é histórico.     

Lembro das palavras – pasmem quão atuais! – de Joaquim Nabuco na fundação da Academia Brasileira de Letras: “Não temos de que nos afligir: todas as Academias nasceram assim. Que era a Academia Francesa quando a Richelieu ocorreu insuflar-lhe o seu gênio, associá-la à sua missão? Era uma reunião de sete ou oito homens de espírito em Paris. E as Academias, as Arcádias todas do século passador? Qualquer pretexto é bom para nascer... Não se deve inquirir das origens. Quando a vida aparece, é que o inconsciente tomou parte na concepção, e com a vida vem a responsabilidade, que enobrece as origens as mais duvidosas. Quem nos lançará em rosto o nosso nascimento, se fizermos alguma coisa; se justificarmos a nossa existência; criando para nós mesmos uma função necessária e desempenhando-a? Acaso tem o ator que provar ao público o seu direito de existir? Não basta a emoção que desprende de si e faz passar por todos nós? E o pintor, o escultor, o poeta? Não basta a obra?”

Por isso, confrades e confreiras, exultemos!

A ALC nasceu e saudavelmente está em fase de crescimento. Consciente de sua excelsa missão, que Machado de Assis tão bem precisou: “A Academia, trabalhando pelo conhecimento [...], buscará ser, com o tempo, a guarda da nossa língua. Caber-lhe-á então defendê-la daquilo que não venha das fontes legítimas, - o povo e os escritores, - não confundindo a moda, que perece, com o moderno, que vivifica.”

Salve a Academia! Que continue a prodigalizar a cidade com os benefícios das causas do espírito, com a aspersão do óleo do pensamento, com a meditação fecunda, com o farol da plenitude do viver.

Afinal, a vida plena é possível. Pode ser encontrada em um espaço modesto onde se conjugue uma biblioteca, uma residência e um jardim. 


(Júnior Bonfim na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

quinta-feira, 9 de junho de 2011

DO CONTRA (Isis Celiane)

Caminhando pelo mundo contra os desígnios do tempo;
pelejando feito um loco pertinaz que não se entrega;
contrariando as lógicas e contestando o óbvio;
sou inimigo declarado do conformismo
e não há qualquer determinismo
que me convença do fracasso,
ainda mais se o fracassado tiver de ser eu.

Andando pela contramão das imposições sociais,
quero ser neste mundo bem mais
que um sujeito vencido a viver cabisbaixo.
Não aceitarei jamais estar por baixo,
sou bem maior que o meu tamanho aparenta.
E se o medo feito adversário me enfrenta,
faço dele aliado e vou seguindo cauteloso

Desafiando a máxima do mundo burguês:
não esgotarei todas as forças pra ter dignidade,
um prato de comida não mata a fome,
o sacrifício exagerado do corpo compromete a mente.
Estas ideologias sem ideais não me consomem.
Nesta engrenagem exploradora,
o trabalho não dignifica; danifica o homem

De que me vale a igualdade perante a lei
se à margem dela sou exclusão?
Quero ser além deste oportuno cidadão,
não entrego os pontos nem recuo a quem me afronta
e pra quem disser que gosto de contrariar,
se é pra aceitar o mundo como aí estar,
prefiro mesmo é ser do contra.

terça-feira, 7 de junho de 2011

EDITAL

Pelo presente edital, ficam os 22 membros efetivos da Academia de Letras de Crateús – ALC convocados para Assembléia Geral ordinária que se realizará no dia 11 de junho de 2011, às 15:00h, em sua Sede à Rua do Instituto Santa Inês, n° 231, nesta Cidade de Crateús, para discutir e deliberar sobre a seguinte pauta: 1) eleição da nova diretoria da Arcádia, mandato 2011 a 2013; 2) eleição de novos membros efetivos para preenchimento de cadeiras vagas de n° 23 a 40; 3) discussão e planejamento da excursão de pesquisa sobre o centenário de Crateús às cidade de Oeiras e Teresina, no Estado do Piauí, a se realizar em junho do ano corrente; 4) outros assuntos do interesse da Entidade.

Crateús, 30 de maio de 2011

ANTONIO ELIAS DE FRANÇA
presidente

quinta-feira, 2 de junho de 2011

7 Palmos (Poema Concreto)
                                                                                         Chico Pascoal
cavo cavo cavo cavo cavo cavo cavo
cavo cavo cavo cavo cavo cavo
cavo cavo cavo cavo cavo
cavo cavo cavo cavo
cavo cavo cavo
cavo cavo
cova


Crateuense que publica o Blog MICRORELATOS DO CHEEKO
http://microrelatosdocheeko.blogspot.com/

quarta-feira, 1 de junho de 2011

DESCOMPASSO

Elias de França


Tenho um desarranjo em mim
Mal de nascença ou vício de hábito, não sei:
Meus dois lados não se entendem, são pólos em conflito.
Em essência, sou destro pelas esquerdas
E adquirido às direitas.

Minha esquerda é pulsante, sucinta, alada;
A direita gestante, parida, arada.
A Esquerda corre na frente apressada;
A direita rasteja tangente, a esmo.
O olho esquerdo desgastado, caolho;
O direito descansado, abrolho.
A minha macheza esquerda é roncolha;
A direita é fêmea por escolha.
O ouvido esquerdo vazado, mouco, fajuto;
o direito astuto,
assaz aguçado.
Meu lado esquerdo é cansado,
Dilacerado das traquinices tantas,
padece senil, esclerosado;
O direito dissimulado,
pousando de jovial, banca o varonil.
O lado esquerdo se aventura no desconhecido;
O direito passeia descontraído.
O esquerdo faz e aproveita;
O direito espreita come e deita.
A Face esquerda leva o bofete;
A direita é oferecida.

Quando tenho febre, meu lado esquerdo é o primeiro a arder;
Já na cura, o direito extravasa todo o suor de alívio.
O lado esquerdo sempre está alguns meses mais velho,
com uma ruga a mais no semblante;
O direito sempre tem de hábil um item em falta.
O esquerdo sempre um ai a mais de dor,
enquanto no direito sobra um gracejo, um vigor.

Penso que, ao fim, não hei de morrer de vez, por inteiro:
Um dos ventrículos do coração há de parar primeiro,
Deixando de irrigar do gás vital a cinzenta massa do amor,
Enquanto o eu razão resistirá agonizante.
Morto o coração, o fígado arquejará até o ultimo suspiro
abraçado ao pedaço de pulmão mais próximo.
E no cemitério faltará terra para sepultar uma das bandas,
ou, talvez, o coveiro esqueça minha mão direita fora do túmulo,
a acenar minhas despedidas póstumas aos parentes
E dando pitoco aos curumins travessos.
Se outra vida houver, com céu ou inferno como morada,
a esquerda há de ser elevada
e a direita se deixará cair nas profundezas, no fogo eterno assada.

terça-feira, 31 de maio de 2011

                                   Um sonho
  
Era  um sonho leve como um barco a vela soprado na madrugada.
A mesma luz, o mesmo rosto com algo a me dizer, solene e indispensável.
Por não ouvir o que dizes, fico a confabular.
A luz do rosto se parece a tantos rostos perdidos na memória
que não identifico o teu  semblante, no vulto de meu sonho.
Sei que o vento das palavras que pronuncias me é familiar.
Garimpei nas cinzas que toldam meus longínquos olhos,
após a combustão de uma vida, mas as tuas palavras são só olvido.
Com um novo apuro tento suscitar o que dizes,
sussurro por sussurro, numa concentração de sonâmbulo.
Nada. É o vazio que fica da tua voz que me perturba!
Uma presença tal qual uma ausência a me ser preenchida.
Como uma esfinge pronunciando meu inexplicável enigma
que de tanto atender, sonho em decifrar.

Raimundo Candido
www.raimundinho.hpg.com.br

segunda-feira, 30 de maio de 2011

EDITAL

Pelo presente edital, ficam os 22 membros efetivos da Academia de Letras de Crateús – ALC convocados para Assembléia Geral ordinária que se realizará no dia 11 de junho de 2011, às 15:00h, em sua Sede à Rua do Instituto Santa Inês, n° 231, nesta Cidade de Crateús, para discutir e deliberar sobre a seguinte pauta: 1) eleição da nova diretoria da Arcádia, mandato 2011 a 2013; 2) eleição de novos membros efetivos para preenchimento de cadeiras vagas de n° 23 a 40; 3) discussão e planejamento da excursão de pesquisa sobre o centenário de Crateús às cidade de Oeiras e Teresina, no Estado do Piauí, a se realizar em junho do ano corrente; 4) outros assuntos do interesse da Entidade.

Crateús, 30 de maio de 2011



ANTONIO ELIAS DE FRANÇA
presidente

domingo, 29 de maio de 2011

                            Tarrafa

Era o braço que se esticava como uma corda
e se abria em flor, desabrochando
sobre minha epiderme líquida.

Bailavam repetidas vezes, como um par,
a rodopiar, debulhando-se ao vento
para o abnegado sangue fluvial.

Daquele tarrafear bíblico e invulgar milagre:
“— Navega ao largo e lançai as redes! “
arrojo-me a cardumes à luz do dia.

No arrastar de malhas é que sempre me sei,
como uma realidade vital de me perenizar
a toda fome, só pelo mero ato de pescar!

Raimundo Candido
www.raimundinho.hpg.com.br

Chico Pascoal disse...

Meu velho pai bem que tentou me ensinar a jogar tarrafa. Não aí no Poty, mas no Rio Grande, em Barreiras, Bahia.
Eu jogava, só abria a metade. Inventei sem querer a técnica da meia-lua.

Quarta-feira, 01 Junho, 2011


quinta-feira, 26 de maio de 2011

ADRIANA CALAÇA

Mas se o tempo passa e não passam os amigos e os amores
e se na vida, ainda que em dissabores,
tens um dia só teu pra festejar.
Se há amigos para abraçar,
filhos e amores para amar.
Se a luta ainda instiga a viver,
os anos que passam em aniversário,
nunca serão adversários,
jamais servirão pra envelhecer.
                         Isis Celiane

Parabéns por seu dia...

Raimudo Candido disse...
Pegando carona da Isis,
também abraço a Calaça
guereira, mestra e atriz,
bon vivant e cheia graça!

Parabéns!
Raimudo Candido

Quinta-feira, 26 Maio, 2011
Lata d’água

Iam pingando, os furos da lata,
vazando angústia e solidão.
Iam gotejando diluídas Marias,
generosas Rosas no sertão.
Ia ensopando a rodilha, escorria
os cabelos, o vestido de chita,
os ofegantes seios de algodão.
Um fascínio aquoso vertia
feito água benta ao chão.

Raimundo Candido
www.raimundinho.hpg.com.br

quarta-feira, 25 de maio de 2011

ÓCULOS

Elias de França


Meus olhos envelheceram antes de mim
Deixaram-me órfão das feições belas da moça
Do brilho da Estrela D’alva
Dos versos de “de Mello”...

Mas desde ontem tenho nova vista
Ganhei um par de olhos de vidro
Bem redondos, bem graúdos, bem emparelhados...

Ganhei de volta o sorriso da moça,
Rindo risadas, chegando a gargalhar
As estrelas todas me cresceram
As Três-Marias mais parecem Vênus trigêmeas

Ganhei até um novo nome
Sempre pronunciado com ar de graça:
olhos de bila.

Hoje estou mais distante do ancestral homo sapiens
E mais parente dos sapos e das moscas
Em desforra, a linha do horizonte dá nó no meu nariz
O infinito céu roça a barriga no meu telhado
E posso, enfim, com meus olhos postiços
Encontrar sozinho os buracos das fechaduras
Das portas de tantos mundos.

domingo, 22 de maio de 2011

                                                               Metamorfose
A ocorrência do fato foi rápida e espontânea. Mas os avisos, estes chegaram lentos, e vinham enfadonhos, indecifráveis, confusos a começar pelos sonhos. Enquanto dormia, uma sequência de fenômenos lhe ocorria. Aliás, nem era sonho aquela coisa que tomava conta de sua mente enquanto fechava os cansados olhos ao fim do dia. Quase sempre se levantava da rede com a impressão que não dormira, que os mesmos pesadelos o anestesiara, que a agitação noturna ficava cada vez mais pesada, ia aos pouco lhe dominando, tomando conta de seu corpo, circulando pelo seu sangue, insensibilizando seus nervos com uma dormência inexplicável.
O grito não ecoou pela casa quando abriu a boca em desespero naquela inesquecível manhã, clamando por socorro. Não exprimiu um som sequer quando seu rosto aflito notou que seus braços agora eram galhos ramificados agitando-se em pleno ar. Com um aspecto deformante e horrorizado viu suas duas pernas feitas troncos de árvores com raízes bizarras e esgalhadas onde antes eram seus dois errantes pés, não emitiu um ruído, embora tentasse desesperadamente dizer algo com uma inexistente voz.
A súbita mudança ocorreu à noite, enquanto dormia. De repente, suas pernas que incansavelmente empoleiravam-se na escada para execução de seu incansável trabalho de podador de árvores criaram aéreas raízes. Seus braços ágeis com o amolado facão subdividiram-se agora em longos galhos excitados e sem uma única folha. Seu corpo se mostrava encrostado em cinzentas cascas.
A notícia logo se espalhou, pelos quatro cantos do mundo, levada ao vento, de um pé de ouvido ao outro, pois o vento só não leva veloz as dores da fome e da precisão. Vinha gente de toda parte para ver esta transformação de um homem em árvore, a transmutação animal-vegetal como ocorre com alguns malévolos cidadãos que em noites de sexta-feira 13, pela força da lua cheia, viram exaltado lobisomens e saem à procura de crueldade e sangue.
Olhavam inacreditavelmente atônitos para aquela estranha mutação e enfim, alguém disse: - Coitado, está pagando pelo mal que vez. Quantas árvores malvadamente depenou com sua amolada foice, deixando só um liso tronco, sem uma única folha para sua leve respiração, para sua vital fotossíntese. Bem feito!
Alguns, raciocinando mais além, inferiam: - Mas isto não é justo! Ele estava fazendo seu trabalho em busca do pão, para sustentar os filhos. Para haver justiça teria que ser punido também quem mandou fazer o serviço, que se transforme em pedra a mão de quem pagou tal crime!
  Outros, mais presumidos e nem menos versados, aproveitavam a ocasião e teciam filosóficos comentários: - Muitas árvores já arderam como fogueiras em nome de um improrrogável progresso, deram-se um basta neste delito criando-se leis para protegê-las! Agora querem que nossas árvores urbanas se transformem em meros adornos, enfeites vistosos na frente das casas, sem poderem sequer frutificar ou um dia florir, por que não criar leis também em seu auxilio? Assim, não aconteceriam esses castigos aberrantes, que nos impõem os deuses e que estamos vendo agora.
A multidão, que se concentrava ali, via um homem transformando-se em planta, criando casca, expandindo galhos, assentando suas sequiosas raízes ao chão, tudo ao contrario do que sempre ocorre na natureza, onde uma lagarta repugnante se transforma numa bela borboleta e eles estavam vendo agora, a impossível transformação de um ser humano num repugnante lagarto vegetante. A profusão de gente curiosa que saia dali, estava mais cônscia, acreditando que há um castigo a toda crueldade, mesmo inconsciente, e que a evolução gradual da humanidade passa necessariamente pelo amor que se adquire a vida das plantas e ao indispensável respeito à natureza.

Raimundo Candido
http://www.raimundinho.hpg.com.br/

Luciano Bonfim disse...
Valeu, poeta. Eis uma espécie de Gregor Samsa ecológico, né? Abraços!
Luciano Bonfim




Domingo, 22 Maio, 2011



                                   

quinta-feira, 19 de maio de 2011

...............................Cem anos de melancolia.

.........Desperto na leveza de hoje, usufruindo o melodioso sabor da minha cidade que já se espreguiça na lentidão de quem carrega cem anos de melancolia. Pelas venezianas entram os primeiros ruídos de um dia que me traz em seus tons uma aragem de suaves imagens como num poético jornal matutino.
..........Distingo os mesmos passos leves que vem deslizando pela calçada, a caminho da padaria e que logo voltarão na mesma marcha ainda comentando um invariável futebol, bradando que seu time está sem brilho para se antecipar ao desdém que por acaso surja de algum oponente.
.........Ouço meu amigo Paulo com seu longo rosto triste, como se vestisse uma máscara, passeando em sua homeopática caminhada, arrastando seu eterno carrinho de dores. O Jardineiro, incumbido do zelo e brilho da praça, já despertou os pássaros com sua voz de malhar ferro em algazarra. Recordo-me que foram encravadas umas mudas de plantas como promessa de copiosas sombras para deleite de meu palpitoso coração, e até agradeço ao meu amigo Wanderley, protetor das árvores, descendente direto da linhagem dos curupiras.
...........Um mesmo gari caricato vem tangendo o pedroso calçamento, catando dispersos papeis jogados por um desleixado citadino e algumas tampinhas esquecidas pelas crianças em suas brincadeiras pueris, mas deixa no chão a raiz do dia que vai nascendo manso e vai crescendo rápido, vai engolindo quieto cada segundo, cada minuto desta quadra de maio que ainda traz os húmus de um inverno de abril para meus neblinados olhos. Saboreio devagar estes bons e aprazíveis dias, pois sei que logo passarão para vir os famigerados B.R.O brós cheios de horas esturricantes, abafando tudo e a todos com seus sopros de dragão.
...........Capto um brrrummm de uma nem tão ruidosa moto que passa me dizendo que é hora de ergue-me ao meu pacato mundo, ao meu infalível dia, que eu mesmo faço, sereno e tranquilo.
..........Algumas vezes amanheci ouvindo os sons de outras distantes cidades, em outros lugares que se dizem repleto de encantos, de esplendores com seus monumentos erguidos aos céus, com suas paredes pintadas no vidro, desenhadas em ouro e encrostadas em falsos brilhantes, mas para mim, suscita-se num dia arcaico, grotesco, perverso abrindo-se como se uma máquina de imensa boca engolisse o mundo com uma fome de prosperidade exacerbada, arrancada da pele dos homens, das mulheres, das crianças que estão muito bem atados a uma linha de tempo impiedoso, severo e tirano. Tive compaixão do padecer daqueles cidadãos que por ali perduram, como se escravos fossem.
.........Volto a olhar pelas frinchas de minha veneziana e vejo que há uma felicidade em ser triste, na serena e doce vida desta velada melancolia que só existe aqui, onde sou parte inacabada deste meu lugar. Minha cidade é minha solidão que me povoa e que me habita. Meu mundo é feito de águas quietas e revoltas que passam como um rio por minha sôfrega janela, com suas aflitas horas de transbordantes cheias ou como  momentos sem o mínimo apetite e que aquaticamente me deixam totalmente vazio.

Raimundo Candido
http://www.raimundinho.hpg.com.br/

Luciano Bonfim disse...
Poeta, nestes cem anos de melancolia de nossa cidade deve ter um bocado considerável desse tempo distribuído/navegado pelo descaso, corrupção e outras mazelas que assolam o país - e a nossa região - vide os noticiários e a própria imagem e auto-estima da cidade. Abraços.
Luciano Bonfim
Domingo, 22 Maio, 2011

domingo, 15 de maio de 2011

O ENCANTO DO CANTAR

João Elias

Canto encolhido no canto;
levo o ritmo cá no peito.
Só sei cantar desse jeito,
mas é o jeito cantar.

Se não cantar, desencanto,
me abandona inteiro a alma;
uma canção me acalma,
assim eu devo cantar.

Se caído, eu levanto;
sou transportado ao passado,
pela canção fui curado.
Por que parar de cantar?

Às vezes fico cantando,
não percebo minhas mágoas.
Direto assim como as águas,
não suspendo o meu cantar.

Vêm as noites de saudades,
aqueles tristes momentos,
nos flechais me cantam os ventos:
é a solidão a cantar.

O Sertão seco é tristeza;
a chuva traz alegria,
canta o carão, canta a jia:
é a Natureza a cantar.

Tange a boiada o vaqueiro,
cada chocalho é um tom.
Passa o tempo, fica o som;
até aço quer cantar.

Range o galho do pau-branco,
a palha da carnaúba,
o pingo choco da chuva...
Ô floresta pra cantar!

O sabiá canta a mata;
o galo, o amanhecer.
Eu quero cantar você;
não resista ao meu cantar.

Há cantiga em toda parte.
Quem canta tem o porquê.
Vou cantar para você;
vem curtir o meu cantar.



ESCRITORES


ESCRITORES



I - Esses viventes estranhos, metidos a querer saber de quase tudo, a ser “antenas da raça”. São seres falíveis, feito quaisquer unzinhos; cheios de defeitos, pululam por aí emitindo opiniões sobre o planeta e arredores. Dariam uma enciclopédia em cem volumes todas as previsões, dicas e besteiras que proferiram pelos tempos afora.

A mim me (sic) parece serem apenas pequenos seres inofensivos, cavilosos, vaidosos, mas inofensivos. Raros escrevem algum livro que mudam uma geração, poucos lançam palavras que se sustem no vento.

Mas quão triste seria o mundo sem esses vermezinhos feitos de ira, vaidade e água.

II – Me irrito profundamente quando escuto ou leio alguém reclamando da enorme quantidade de escritores e lançamentos de livros em nossa volúvel loirinha desmazelada pelo sol (esses mesmos jamais reclamam da enorme quantidade de políticos ladrões, marginais de toda sorte, péssimos profissionais e outras mazelas mais que inundam nossa vã sociedade).

Se for escritor o reclamante imagino logo que o sujeito quereria ser escritor sozinho e que se acha infinitivamente melhor do que os outros (o que não se confirma na maioria das vezes).

Caso seja um jornalista o criticante vejo com piores olhos ainda, visto serem os profissionais que mais deveriam valorizar a classe dos escritores (que todos, mesmos o fazedor de horóscopo, deveriam almejar ser; e não raro são os que mais inflacionam o mercado com obras dispensáveis e medíocres).


III – Adoro lançamento e se pudesse iria a todos.

E são raras as semanas em que não vou prestigiar um amigo, um desconhecido ou até antipatizante, com minha gordita presença em sua noite de autógrafo.


Verdade que detesto discurso e apresentações, e a primeira coisa que observo num palestrante é a quantidade de página em suas mãos.


O resto é só festa, reencontro de amigos, rebuliço de gente, corrida atrás dos quitutes e bebidas; de gente, em sua maioria, de bem (o que não se pode afirmar de muitas reuniões sociais, clubes granfinos e convenções de partidos).


Portanto, amigos, escrevam bastante e tentem fazê-lo cada vez melhor; pois se seus escritos não ajudarem a tornar melhor o mundo, com certeza não o tornará pior.


Por Pedro Salgueiro, colunista O Povo